AS FUNÇÕES DA LINGUAGEM

AS FUNÇÕES DA LINGUAGEM

Pode parecer um contrassenso que em pleno século XXI, quando as mensagens viajam com uma rapidez impressionante através de plataformas e aplicativos virtuais, estejamos ainda preocupados com leitura e escrita. Não é. Mais do que nunca descalabros linguísticos se tornaram evidentes, justamente em consequência da exposição promovida pela mídia. Mais do que nunca precisamos nos expressar com clareza, entendendo a Língua como um produto de cultura: dom natural, sim, mas construído em sociedade, seguindo uma série de convenções e regras comuns aos membros de uma dada comunidade, visando à comunicação.

Os dois objetivos básicos do uso da Língua são, segundo Nelly Novaes Coelho (1993, p. 28):

  • Apreender as vivências humanas e representá-las de forma oral ou escrita a fim de que seja possível comunicá-la aos outros;
  • Fixar essa representação pela escrita, para que possa ser transmitida de homem para homem ou de geração para geração, a fim de que as experiências individuais, assimiladas pelo grupo ou pela comunidade, possam se transformar em Cultura e Civilização.

Em outras épocas, em que era menor a exposição visual, o primeiro objetivo se cumpriu com eficiência, pois todos já recebemos, junto de um abraço, felicitações pelo nosso aniversário, ou prestamos atenção à explicação de como preparar determinado prato culinário ou um remédio caseiro, ou ouvimos alguma notícia trazida por quem ficou sabendo primeiro. E entendemos todos esses recados. Entretanto, mais do que nunca as felicitações são compartilhadas em cartões virtuais, assim como notícias, receitas e uma infinidade de assuntos são partilhados por escrito. É imprescindível, portanto, para o bem das relações humanas, que a fixação por escrito das vivências humanas seja feita com eficiência.

Nesse sentido, tanto para ler um texto qualquer, quanto para criar uma mensagem escrita, é importante considerar que a linguagem tem diferentes funções, dependendo do objetivo do autor (ou de mim e de você, enquanto escritores) com sua mensagem.

Saussure entendia o processo de comunicação como um drama que envolvia três personagens: o mundo (o conteúdo sobre o qual se fala), o emissor (aquele que fala) e o receptor (aquele que recebe a mensagem). Roman Jakobson, linguista russo, ampliando essa visão, prefere chamar o mundo de contexto e acrescenta três fatores constitutivos da comunicação: a mensagem (aquilo que é dito), o código (a expressão linguística utilizada) e o canal que possibilita essa comunicação (reforço da conexão entre emissor e receptor, pela repetição de expressões breves, que visam estabelecer ou manter a comunicação).

Todos esses fatores, segundo Jakobson, se inter-relacionam, constituindo o ato de comunicação exemplificado no esquema abaixo:Interpretando esse esquema, entendemos que:

O EMISSOR envia uma MENSAGEM para o RECEPTOR. Essa mensagem remete a um CONTEXTO, que deve ser apreensível para o receptor, e utiliza-se de um CÓDIGO que ambos, emissor e receptor dominam. Além disso, a mensagem precisa ser expressa por um CANAL, o que implica em um aspecto físico (ondas sonoras, sinais gráficos) e em uma conexão psicológica (interjeições, gestos) que reforçam a comunicação que se estabelece na interação desses fatores.

Cada um desses fatores dá origem a uma função linguística diferente, explica Jakobson. Embora as mensagens normalmente envolvam vários desses elementos de comunicação, é possível observar que uma função sempre se sobrepõe: “A diversidade das mensagens reside, não no monopólio de uma ou outra função, mas nas diferenças de hierarquia entre elas.  A estrutura verbal de uma mensagem depende, acima de tudo, da função dominante” (JAKOBSON apud COELHO, 1993, p. 32).

Assim, dependendo da intenção do EMISSOR com sua MENSAGEM, as funções da linguagem podem ser:

 

  1. Função Referencial: quando a intenção da mensagem é, predominantemente, informativa (conteúdo, ideias, assunto…), fazendo referência ao CONTEXTO em que estamos inseridos.

Exemplos:

 

 

 

 

 

 

 

  1. Função Emotiva: a mensagem centra-se no EMISSOR (aquele eu fala) e tem por objetivo expressar reações, emoções e atitudes do próprio emissor em relação ao que está falando.

Exemplos:

 

     

 

 

 

 

  1. Função Apelativa: a intenção principal da mensagem é atuar sobre o RECEPTOR (ouvinte ou leitor) no sentido de influenciá-lo a agir de determinada maneira, razão para que utilize muito o vocativo e verbos no imperativo).

Exemplos:

 

                        

 

 

  

  1. Função Metalinguística: ocorre quando a intenção do emissor da mensagem é fazer uma reflexão sobre o próprio CÓDIGO que utiliza para se expressar. É a língua refletindo sobre si mesma. Em outros contextos, é uma pintura que reflete o trabalho do pintor, um filme sobre cinema, uma poesia sobre a arte de poetar, etc.

Exemplos:

     

 

 

 

 

Observação: o artigo “Quando a fotografia encontra a arte” (aqui) apresenta um interessante exemplo de metalinguagem.

 

  1. Função Fática: resulta da preocupação do emissor em manter contato com o receptor, de modo a reforçar o CANAL de comunicação. Para isso, utiliza pequenas frases repetitivas, que não têm outra função senão a de iniciar, reforçar, prolongar ou encerrar a conversa: “Alô?”, “Quem está falando?”, “Entendeu?”, “Podemos prosseguir”?

Exemplos:

 

 

   

 

  1. Função Poética: quando o interesse do emissor está centralizado na própria MENSAGEM, a ponto de transformá-la, usando-a de um modo incomum, organizando-a através de metáforas, rimas, etc. Caracteriza, evidentemente, a linguagem literária e poética, embora possa ser encontrada, também, em outros contextos.

Exemplos:

 

     

 

 

 

 

Compreender qual a função tem o texto que lemos é meio caminho andado para compreendê-lo como um todo e, assim, nos tornarmos leitores eficientes, que interpretam com facilidade os textos que leem. Semelhantemente, ter em mente o objetivo do texto que escrevemos é o primeiro e decisivo passo no caminho da escrita clara, fluida, coerente e coesa – que todos buscamos quando lemos – e que devemos perseguir ao escrever.

 

Beijo&Carinho,

 

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Referência:

COELHO, Nelly Novaes. Literatura e linguagem: a obra literária e a expressão linguística. 5ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1993.

Imagens: Google Imagens

 

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