A PERCEPÇÃO DA NUANCE

A PERCEPÇÃO DA NUANCE

. . Punham-me para dormir na sala do pequeno apartamento, num edredom dobrado onde também dormia meu irmão. Éramos crianças e visitávamos nossos tios em São Paulo. Meu irmão, mais novo que eu dois anos, dormia logo e nem imaginava as agruras pelas quais eu 

AMAR E SER AMADO

AMAR E SER AMADO

. . Um erudito perguntou-me certa vez o que me parecia mais desejável, amar ou ser amada. Eu não tinha todo o tempo do mundo para pensar e minhas poucas e frustradas experiências amorosas me fizeram responder rapidamente: “Ser amada”. – “É isso o que 

UNS BRINCOS

UNS BRINCOS

. . Quando minha avó morreu, meu pai estava com ela. Ele fechou-lhe os olhos enquanto os seus ficavam cheios de lágrimas, o que os deixou momentaneamente mais verdes. Antes de deixá-la, sabendo que viriam preparar seu corpo para o sepultamento, tirou-lhe os brincos e 

GRAMINHAS NA CALÇADA

GRAMINHAS NA CALÇADA

. . No meu tempo de colégio eu percorria um longo trajeto a pé para assistir às aulas. Talvez por isso fosse tão magrinha, talvez por isso tivesse tantas imagens com que ocupar o pensamento quando as aulas eram más: a camada fina de geada 

LIÇÕES DE PAINEIRAS

LIÇÕES DE PAINEIRAS

. . Se não estou enganada, foi Goethe quem disse que “viajamos não apenas para chegar, mas para viver enquanto estamos viajando”. Pensei nisso, dia desses, quando a estrada se desdobrava diante dos meus olhos – cada quilômetro vencido, mais próxima do meu destino. Enquanto 

SOBRE A CHUVA

SOBRE A CHUVA

. . Eu amo chuva! Amo a chuva amena, tranquila, que refresca a terra e o ar e pela qual se espera com ansiedade. Chuva serôdia, como a Bíblia a chama, como meu avô Edson gostava de repetir. Gosto de seu tamborilar na vidraça e 

BRINCADEIRAS COM CABAÇAS

BRINCADEIRAS COM CABAÇAS

. . Quando eu era menina, meu pai, com um canivete, abria cabaças fazendo um zig zag quase perfeito. Como era algo inteiramente artesanal, uma ou outra parte do zig zag ficava maior, ou menor.  Para fechar de novo a cabaça e usá-la como porta-joias 

“ROSA E AZUL” E UM ANO QUE COMEÇA

“ROSA E AZUL” E UM ANO QUE COMEÇA

. . Impossível, para mim, falar em “rosa e azul” sem me lembrar da emoção indescritível de olhar pela primeira vez a tela original do pintor impressionista francês, Auguste Renoir (1841-1919), no Museu de Arte de São Paulo (MASP). Eu teria que não ser quem 

“COZINHADINHO” E SUCULENTAS

“COZINHADINHO” E SUCULENTAS

. Na pré-adolescência brincávamos de “cozinhadinho”.  Era esse mesmo o nome que dávamos à brincadeira de montar um fogãozinho à lenha com alguns tijolos e a armação de ferro em miniatura. Recolhíamos gravetos e ateávamos fogo até que esse se tornava contínuo o bastante para 

PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DO NATAL

PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DO NATAL

. Vovô Dito, meu avô materno, era um homem especial. Ele fazia questão de celebrar o Natal e ao seu redor nos reuníamos todos – o sorriso no rosto dele a garantir que a festa seria um sucesso. Vinham os tios e primos que moravam