A PRINCESA SALVA A SI MESMA NESTE LIVRO – APRECIAÇÃO

A PRINCESA SALVA A SI MESMA NESTE LIVRO – APRECIAÇÃO

Livro de poemas modernos, escritos com a linguagem direta e fácil dos textos que circulam pela internet, “A princesa salva a si mesma neste livro”, da jovem escritora norte-americana, Amanda Lovelace, trata de temas como autoaceitação, autorrealização, amor-próprio, relacionamento amoroso, etc.

 

LOVELACE, Amanda. A princesa salva a si mesma neste livro. Trad. de Izabel Aleixo. Rio de Janeiro: Leya, 2017, 207 p.

 

Dividido em quatro partes (“a princesa”, “a donzela”, “a rainha” e “você”), o livro apresenta o difícil trajeto percorrido pela princesa frágil, que se refugia em sua torre (o seu quarto) e em seus livros (“nasci meio louca por livros”), pobre de amigos e carente do afeto materno, até o momento em que se descobre forte, capaz de lidar com dragões e de salvar de si mesma.

Toda a história da princesa é fragmentada e apresentada em forma de versos despreocupados em relação ao ritmo e à sonoridade,  caracterizando, mais propriamente, uma prosa dissolvida em versos, na qual algumas belas imagens (como a das “chamas a lamberem a ponta de seus dedos”) se fazem encontrar.

Os poemas – ainda que neles falte o ritmo, tão característico da poesia e tão buscado nela por mim – são breves, de versos curtos e linguagem simples, o que faz com que a leitura flua, deslizando rapidamente pelos olhos.

Não são versos sobre os quais seja preciso meditar muito tempo (eu li todo o livro em duas horas e meia), mas seu conteúdo, constituindo uma história, é bastante dramático, emocionante e envolvente.

As dificuldades da princesa começam com o difícil relacionamento com a mãe (“você/ não ficou/ satisfeita/ em cortar/ apenas/ uma das/ minhas asas.// você tosou/ as duas/ bem perto/ da raiz/ para ter certeza/ de que eu/ nunca mais voasse”) e com seu próprio corpo: “aos onze anos/ o médico me pesou/ & em seguida,/ minha mãe me disse/ que eu estava muito gorda/ & precisava fazer/ uma dieta/ imediatamente.” Vêm depois os namorados (os dragões) e seus amores pela metade, o câncer que vai consumindo a mãe e, enquanto isso, a morte da irmã mais velha, jovem e linda, e a dilacerante dor de “nunca/ser capaz/ de saber/ se foi/ s u i c í d i o/ ou não”.

“A quantos/ enterros pode/ alguém ir/ antes de completar/ dezenove?”, pergunta a voz da princesa transformada em donzela, reconhecendo na morte o que nunca esperou:  sua “companheira mais fiel”:

 

nunca 

esperei que

a morte

fosse minha

companheira mais fiel,

mas ela é

a única

que virá

sem que eu

tenha que

chamar.

 

  a única que nunca irá embora.

 

A dor, entretanto, é motivo para a poesia:

 

chegou

um tempo

em que

a poesia

me mostrou

como

sangrar

sem

a necessidade

de sangue.

 meu amor mais leal.

 

 

Diante dessa consciência é que a donzela, percebendo que nunca precisou de suas asas cortadas para poder voar, transforma-se em rainha (“se/ coroou/ a/ porra da/ rainha de/ si mesma.”).

Ao descobrir-se forte, consegue recordar bons momentos vividos com a mãe e encontra o amor:

 

&

tento

imaginar

o que você

iria dizer

se eu

lhe contasse

que não fui

capaz de

rir

durante

muito tempo

porque quando eu ria,

alguém me dizia

que eu ria

igualzinho

a você,

mas

acho que isso

é apenas o

tipo

de coisa

que vou ter que

guardar para mim

& dar para você

mais tarde.

 para sempre colecionadora de palavras II.

 

 

ele

me abriu

como um livro

& derramou a

poesia

dentro de mim

outra vez.

– minha caneta & papel pessoais.

 

Plena, a rainha se volta, nos poemas seguintes, para o leitor – evocado nominalmente: “você”, “querido leitor” – a fim de com ele compartilhar suas experiências de resistência e força: “a comida/ não/ é/ o/ inimigo./ – a sociedade é”; “cultive um belo jardim/ das suas dores/ & ensine a si mesma/ como crescer a partir disso”.

Os versos em itálico, ao final dos poemas, apresentados após um travessão (vide exemplos nas imagens acima) podem ser lidos como uma espécie de título que, inversamente ao que se espera, aparecem depois e não antes do poema, fundindo-se, em alguns casos, à essência dos versos, servindo-lhes de remate.

Não são poemas fabulosos, daqueles nos quais se percebe emprego de grande trabalho de elaboração poética e que, por serem belos e profundos, abalam as estruturas do nosso ser; soam sinceros e comoventes, entretanto, ao repartirem momentos dramáticos de dor, aprendizado e crescimento.

Pessoalmente, acredito que o maior valor do livro está na importância que confere à poesia e à ficção como formas de libertação e crescimento. Leia-o quando estiver precisando de um estímulo para continuar:

 

quando eu morrer

não

perca

um minuto

chorando por mim.

posso ir embora

mas vou

deixar para trás

todas as minhas

mil & uma

vidas.

– uma garota louca por livros nunca morre.

 

Presenteie e indique para adolescentes. A leitura é fácil e pode ser recomendada no ensino médio: não para cobrar apresentações que valham nota, pelo amor de Deus, mas simplesmente para ensinar que a leitura pode, por simples que seja, propiciar, a um só tempo, emoção, prazer e aprendizado.

 

Amanda Lovelace – Foto de Olivia Paez

 

A autora comentou, em uma entrevista, que os versos deste livro praticamente fluíram para fora de si “como uma torneira que não consegui desligar durante um mês”, tempo que ela levou para escrever a primeira versão.

O sucesso alcançado pela obra (que foi premiada) promete se repetir com “A bruxa não vai para a fogueira neste livro”, que já chegou às lojas neste abril (Leya, 208 páginas). Diferente do primeiro, entretanto, que trata de memórias, “A bruxa” trata, segundo a autora, das dificuldades que a sociedade impõe às mulheres.”

O lápis de cor, em algumas imagens, é mania minha. Quando gosto, marco, ponho exclamações, anoto nas margens… Não fique chocado(a) com minha relação passional com os livros, caso você seja daquelas pessoas que tratam esses objetos com muito mais cuidado que eu. Veja o que escrevi a esse respeito em “Amantes de livros: corteses e passionais”, aqui.

 

Beijo&Carinho,

..

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