O CEMITÉRIO DE PRAGA – IMPRESSÕES SOBRE A OBRA

O CEMITÉRIO DE PRAGA – IMPRESSÕES SOBRE A OBRA
 
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Para Ruthia Portelinha, que queria conhecer minha opinião.
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O mais recente livro de Umberto Eco tinha tudo para ganhar meu coração. A excelência de O nome da rosa o referendava, bem como todo o histórico do autor como filósofo, historiador, semiólogo, linguista e bibliófilo. Havia também a inusitada proposta da obra: uma mistura de espionagem e ocultismo a envolver uma série de personagens que realmente existiram e executaram as ações descritas no livro, além de Simone Simonini, o protagonista, único personagem inteiramente fictício, a centralizar a trama conspiratória que envolve judeus, maçons, jesuítas, revolucionários e seitas heréticas. Parecia interessante demais e eu comprei a obra tão logo li a sinopse.
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ECO, Umberto. O Cemitério de Praga. 6ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2012, 479p.
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Logo no início, empolguei-me com a arrojada escolha de três vozes diferentes para se fazerem ouvir na narração – a do narrador, a de Simonini e a do abade católico Dalla Piccola (alter ego de Simonini, com o qual este divide memórias num diário).
Em pouco tempo, porém, o interesse gerado pela possível duplicidade da personalidade de Simonini se dilui em meio às situações históricas que passam a dominar a trama: na segunda metade do século XIX, Simone Simonini, um falsificador criado por um avô antissemita, torna-se um espião obcecado com a criação de um documento que contribuiria para o extermínio dos judeus – referência aos Protocolos dos Sábios do Sião, conhecida falsificação atribuída ao serviço secreto da Rússia Czarista, que serviu como motivação para o antissemitismo da época e de parte do século XX.
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O fato de as ações de um personagem ficcional colocarem em questão eventos que de fato aconteceram é um dos pontos altos da obra como criação literária, muito embora  as extensas referências históricas façam supor que o livro é muito mais histórico que literário. Maçante, mesmo, é a maior parte dessas narrativas históricas e o retorno ao personagem ficcional muitas vezes é feito num ritmo quebrado, arrastado e nada empolgante.
Não se trata de um livro fácil, mas se você gosta de História e acha que vale a pena enfrentar longas e tediosas “aulas” sobre o assunto – o lado acadêmico do autor quase sempre se sobrepõe ao artístico – boa leitura.
Eu gosto de romances densos e difíceis, mas se há algo que realmente me faz falta em um texto é a coesão e a consequente fluidez do texto. Excetuando-se os aspectos verdadeiramente literários, que acima elenquei, achei as quase 500 páginas dessa obra extremamente boring.

 

Edições italiana e polonesa e uma edição em inglês
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Beijo&Carinho,
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18 thoughts on “O CEMITÉRIO DE PRAGA – IMPRESSÕES SOBRE A OBRA”

  • Li "O nome da Rosa" e adorei! Já esse não me atrevo, certamente irei me entediar.
    Beijo querida e uma linda semana! Obrigada pela visita e carinho lá no blog.
    Denise – dojeitode.blogspot.com

  • Olá Jussara tudo bem? Espero que tudo esteja bem por ai, ando atrapalhada, filhos estão consumindo meu tempo. Minha alegria é vê-los encaminhados e andando com as próprias pernas.
    Esse livro com esse nome vai passar longe de mim, tenho muito medo de cemitério e mortes, menina fico dias sem dormir só de ouvir falar, muito estranho essa minha reação, mas fujo.
    Bjos tenha um ótimo feriado.

  • Oi, Ju,

    Eu li este livro e não desgostei dele. Mas isso só foi possível porque o li como quem faz um estudo, rsrs.
    Eu tinha passado os olhos no tal "Protocolo dos Sábios de Sião", tradução do Gustavo Barroso,
    e odiei tanto este livro que sequer consegui passar das primeiras páginas. Contudo, havia
    lido também e gostado muito do O nome da rosa. Então, quando meu marido presenteou-me
    com O Cemitério de Praga, achei que se tratasse de um livro a La Dan Brown (que eu não li),
    mas escrito por alguém com mais "bagagem", rsrs.

    Um beijo e bom feriado!

  • Oi Jussara,

    Sou uma leitora voraz, gosto de obras complexas, mas não tem jeito de me fazer gostar do Humberto Eco, acho os livros dele um tédio! Já larguei alguns livros dele no meio, desisti mesmo, o que é muito raro para mim. O único que se salvou foi O Nome da Rosa.
    Bjs querida e ótimo feriado!

  • Oi Jussara,

    primeiro, obrigada pelo carinho!!
    Eu li esta obra e, sim, ela é bem densa, bem pesada. O interessante dela é justamente o aspecto histórico. Acho q um dos motivos de Eco escrever algo tão diferente foi o fato de ele ter odiado as versões de outros escritores inspiradas no "O nome da rosa". Ele chegou a afirmar q se soubesse q inspiraria escritores como Dan Brown, jamais teria escrito "O Nome da Rosa". Que a obra possa parecer entediante, acredito! É difícil de ler e foi com muito custo q a terminei. Contudo, curti!

    Beijão,

    Luiza Mallmann

  • Minha querida, muito obrigada pela dedicatória, que me deixou até emocionada.
    Mais uma vez fiquei convencida que somos muito parecidas, enquanto leitoras. Fiquei decepcionada com a obra, como já tinha descrito na minha resenha. Ainda mais porque o nome do autor cria sempre grandes expectativas. Achei o personagem principal incoerente e o enredo demasiado rebuscado. Obrigada pelo post.
    Entretanto estou a recordar a obra do Gabriel García Márquez, a reler algumas obras antigas e com duas novas na lista. A morte de grandes autores deixam-me sempre estranha. Penso nas obras que ainda poderiam produzir, embora neste caso ele já estivesse reformado..

    Beijos, mil, Jussara.
    Ruthia d'O Berço do Mundo

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