CHAPÉU E LENÇO

CHAPÉU E LENÇO
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Meu avô paterno era um grande contador de casos. Como viveu a maior parte da vida em cidades interioranas de Minas e Goiás, a origem de seu rico repertório de situações vividas/ouvidas sempre foi para mim um autêntico mistério. Onde aconteceu? Quando? Com quem? Tais questões, repetidas ao longo dos anos, nunca encontraram respostas. Perdi meu avô quando eu tinha onze anos e nem lembro se cheguei a formular essas perguntas diretamente a ele, mas os casos – assustadores uns, engraçados outros, deliciosos de serem ouvidos – entraram para os anais da família e continuam a ser contados até hoje quando os descendentes do “Seu” Edson se reúnem.
Um desses casos, que muito aprecio, narra o acontecido com uns recém-casados que, conscientes dos próprios temperamentos e desejosos de fazerem perdurar a paz em sua feliz casinha, ajustaram um código a fim de evitarem brigas..
“­– Quando eu chegar a casa e não tirar o chapéu” – disse o homem – “fique você prevenida. Será sinal de que estarei nervoso, ou aborrecido, e de que será melhor não falar comigo”.
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A mulher sorriu e combinou algo parecido:
“– Se ao voltar do trabalho você me encontrar com lenço nos cabelos, não mexa comigo. Terei tido um dia difícil e não vou estar para conversas”.
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Os dois selaram o acordo com um beijo e, segundo consta, a paz reinou naquele cantinho do mundo… até o dia em que o marido não tirou o chapéu ao entrar em casa… e lá estava a mulher… com lenço nos cabelos.
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Beijo&Carinho,
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46 thoughts on “CHAPÉU E LENÇO”

  • Esse caso que seu vô contou ébem interessante!
    Uma forma representativa de lidar com a insegurança!
    Meu sogro também contava casos que até hoje me questiono suas origens, mas o que ficou foi a história que é recontada pelos que ouviram e retiveram na memória
    Adoro ouvir esses casos.

    Bj
    Zizi

  • Jussara, adorei a "estória". O seu avô devia ser uma delícia. Ainda hoje vou publicar um post sobre o teste "Que livro você é"… farei referência ao seu blog. Espero que não se importe.

    Fiquei agradavelmente surpreendida por ter uma parceria com a Livraria Cultura. Sabia que o meu livro está disponível no Brasil através dessa prestigiada rede? Veja aqui: http://www.livrariacultura.com.br/Produto/LIVRO/DIMENSAO-CULTURAL-DA-INTEGRACAO-EUROPEIA-A/42124513

    Beijinho, um doce fim-de-semana
    Ruthia d'O Berço do Mundo

  • Hoje os homens não usam mais chapéus (são raríssimos os que encontramos por aí). Quando eu vejo um, de chapéu, dirigindo na estrada, eu fico receosa porque a tradição diz que ele não é um bom motorista. Os lenços femininos, da cabeça vieram para o pescoço. Sei não, precisamos encontrar outros códigos para marcarmos o nosso território.

  • O "causo"? Bom demais mas, meu coração deu uma paradinha ao ver a primeira foto… Você conhece este lugar? Eu conheço e vou lá, sempre que posso embora, ultimamente, isto não tenha acontecido.
    Um abraço!
    Egléa

    PS: O carteiro passou por aqui e eu mandei um email para você!

  • Jussara,

    Suas postagens tem o dom de me remeter ao passado. Assim que iniciei a leitura me veio a imagem de meu avô paterno. Ele chama-se Benjamim. Nasceu na Argentina, mas em uma rápida visita a fronteira conheceu minha avó e logo estavam casados. Fui sua primeira neta, e para sua felicidade, nasci no dia de seu aniversário. Imagine o quanto fui mimada e amada. Não tive a sorte de conviver muito tempo com ele, pois um câncer o levou quando eu tinha apenas 8 anos. Mas tenho muitas lembranças gostosas, muitos momentos que ainda estão bem vivos em minha memória. Adorava quando ia a sua casa. Após o almoço ele costumava descansar, então, eu corria para seu quarto e deitava apoiada em seu braço, Ficávamos ali… Com seu portunhol um tanto quanto enrolado improvisava algumas estórias e respondia as minhas inúmeras perguntas na esperança de que eu dormisse, para que então ele pudesse fazer o mesmo… Aqueles momentos eram preciosos para mim. Ainda hoje, quando deito no braço de meu marido, sinto uma saudade imensa daquela menina e seu avô que ficaram lá atrás… Linda postagem

    um beijo,
    Denise – dojeitode.blogspot.com

    • Denise,

      Que linda história! Como leitor, fiquei entre a ternura e a dor. Só discordo do trecho em que você diz que sente saudade imensa da menina que você foi e do seu querido avó que ficaram lá atrás. Fica evidente, em seu texto, que vocês não ficaram lá "atrás", a bem da verdade, ainda estão hoje lado a lado, na melhor acepção do que seja "vida" e "laços de família".

      Com carinho,
      Roberto

    • Denise,

      Sua história com seu avó paterno desde o começo me tocou e, à medida que você entra nos recônditos de sua alma entrelaçada com seu querido Benjamin, a contar detalhes dessa bela relação, fico ainda mais enternecido. Que belo poder ler em suas linhas isso: de grandioso que foi, ficou TUDO. Que magnífico extrato, Menina!

      Um abraço a sentir seu coração,
      Roberto

  • Oi Jussara,

    Amo ouvir histórias das pessoas mais velhas, sempre muito encantadora e misteriosa.
    Otima forma de dizer – não estou bem! Nos dias de hoje as pessoas procuram outras formas de demonstrar que não estão bem e na maioria das vezes é com agressividade…

    Bom fim de semana!

    Beijos!

  • Jussara, não tem jeito…o homem e a mulher são bem diferentes, de vez em quando a coisa fica feia mesmo…rsrs faz parte da vida de casal.
    O meu marido é muito observador, graças à Deus, quando ele chega em casa e me olha, eu sou mto transparente, não sei fingir que tá tudo bem, então ele sabe logo,e trata de ficar bem longe…kkkkkk
    Eu também quando vejo que ele não tá bem, procuro ficar longe, assim evitamos brigas desnecessárias. bjossss

  • Oi, Ju,

    Eu também ouvi muitas estórias e causos, rsrs. Alguns dos relatos assustavam-me tremendamente, pois referiam-se a assombrações e coisas sobrenanturais. Por isso mesmo eu decidi não contar esse tipo de estória para minhas filhas. E o fato é que elas nunca tiveram um pingo de medo "monstros" nem de coisas sobrenaturais, rsrs.
    Quanto ao causo do seu avô, humor à parte, é possivel entrever na estória um pouco do espírito do tempo, no que se refere à liberdade com que as pessoas extravasavam as emoções. As emoções hoje não estão mais brandas nem mais sob controle, mas ninguém ousaria propor um pacto desse ao companheiro(a) pois pareceria um abuso, né? Acho que essa é uma das vantagens do nosso tempo: as coisas podem até ter continuado as mesmas, mas a gente as questiona, rsrs.

    Um beijo e bom finzinho de semana, querida!

  • Historias de avô é bom demais , não me lembro dos "causos" deles,mas lembro que quando ia dormir na casa dele e como moravam em sitio e não tinha energia , a noite sempre se reuniam na beira do fogão a lenha e contavam historias de fantasma..rs…e quando era hoa de dormir eu ficava imaginando um monte de fantasmas andando ao redor da casa com velas nas mãos..rss….cabuloso..rsss….tenho ate hj a imagem na minha cabeça..rss.. bjos e obrigada pela visita. Essa semana devo atualizar .

  • Imagino a alegria que é qdo a sua família se reúne para relembrar (e contar) os causos de seu avô. Que delícia!!
    O meu até falava alguma coisa, mas em japonês. Aí complicava… kkkkkkkkkk! Entendo muito pouco de japonês, infelizmente.
    Um ótimo fim de semana, viu!
    Bjns
    🙂

  • Oi Jussara, sua postagem fez-me lembrar meu avô, que também contava seus causos, a maioria de 'assombrações' aparecidas em Barranco Alto.
    Agora, sobre o casal do texto, penso que a situação (ele de chapéu e ela com lenço) seria uma ótima oportunidade para conversarem e descobrirem o porque de estarem assim.
    Abraços, saúde, inspiração e paz.

  • Jussara,

    Bela história!
    Gostei sobretudo da dinâmica da narrativa que deixa lacunas a serem preenchidas pelo leitor.
    A meu ver, isso coloca quem lê contra a parede, posto que exige dele uma imediata interação; mas, ao mesmo tempo, deposita em suas mãos algo interessante: a possibilidade de ele fazer inferências e tornar a leitura algo, digamos, interativo.

    Abraço semiprimaveril,
    Roberto

  • Olá Jussara,

    vim até aqui através de seu comentário no blogue da Nina e encontro um dos "causos" do "seu" Edson! Sempre gostei de ouvir essas historinhas, nem que fossem de assombração! Está bem, mas o desfecho deste caso fica pra gente imaginar? Acaba assim mesmo né: a mulher não pode ficar com TPM,certo? Adorei seu blogue!
    Tenha um domingo perfeito!

    Beijão,
    Lu

  • Oi, Jussara! Apreciadora de histórias e causos, ouvia muitos de minha mãe quando pequena…Depois, do sogro querido, que sempre me chamou por senhora, e me levava rosas do seu jardim…Longos papos, regados a café fresco, vão adoçar minhas memórias para sempre…Ouvir nossos velhos, é uma aventura tão boa quanto ler um bom livro!
    Beijos e lindo domingo pra você!
    Ana

  • Jussara

    Já fico encantada com os seus escritos. Narrativa que adoro ler. Só de você falar em contar "causos" já aguça a leitura.
    Perdi meus avós muito cedo e eles e os amigos dos meus pais falavam sempre em japonês quando contavam casos. Acho que mineiros tem muito mais casos para contar do que os paulistas.

    Quanto aos dois personagens do causo só resta esperar para ver, pois

    "dois bicudos não se bicam"

    Dias maravilhosos para você.
    Bjs.

  • Jussara,
    Primeiro de tudo, acabo de receber seu livro e amei seus poemas (poesias nunca sei o correto…). São lindas palavras que você escreve. Vou fazer ainda hoje um post sobre o mimo que recebi de vc!
    Ah, eu amo os causos que os mais velhos nos contam. Tanta sabedoria nas histórias vividas. E adorei esse que seu avô contou! E é bem mesmo como a Elisa falou, dois bicudos não se bicam!
    Beijos
    adriana

  • Passei por aqui, vindo do Berço do Mundo (da Ruthia) e gostei muito do que li. Saliento o excelente uso que é dado às palavras.
    Vou, com todo o prazer, ficar a seguir este seu espaço.

    Bj

  • kkkkkkkkkkkkkk Nem sempre a irritação está de um lado só e se pode fugir dela.
    Meu pai também era de contar casos, quase todos de fantasmas, assustadores. Ficávamos em silêncio e, na hora de ir para a cama, víamos sombras em todos os lugares. Mas no outro dia queríamos mais. Bjs.

  • Querida Jussara
    Você me fez descobrir que nada na vida é mais importante do que uma amizade sincera e verdadeira. Os amores passam e os amigos ficam. Agradeço-lhe o carinho deixado em minha página enquanto estive ausente em viagem ao Rio de Janeiro. Você é uma pessoa única pois já nasceu especial. Adoro a sua amizade.
    Beijos recheados de saudade e muito carinho.
    Gracita

  • rsrsrsrs
    Até que foi uma ideia bem interessante. Pena que nem tudo sai conforme se espera-rs.
    Meu pai também era contador de 'causos', mas sempre envolvendo 'assombração'. Eu e meus irmãos ficávamos com muito medo, mas adorávamos ouvir. Momentos inesquecíveis.

    Obrigada por ter voltado lá e se instalado.

    Beijo.

  • Adorei o texto Jussara!!! Na minha família é mais ou menos assim, pois durante a semana quando chegamos do trabalho exaustos e cheios de tanto falar (principalmente no telefone) só o que queremos é ficar um tempinho quietos, sem ter que conversar até a poeira baixar… assim é com meu filhote que já é quase um rapaz e me compreende totalmente. Saber reconhecer e respeitar o momento do outro é um grande ato de amor na minha opinião. Sei que o texto não quis dizer exatamente isso, mas me despertou esta lembrança.
    Grande abraço!!!
    http://www.arquitrecos.com

  • Jussara, querida

    Adorei o post, ficou bem divertido.

    As pessoas mais antigas adoravam contar causos, né?

    Esse caso que voce nos contou, é engraçado, mais até que dá certo.

    beijo carinhoso

    Regina Célia

  • Ju , linda a história.
    Meu pai, como bom mineiro é um contador de causos nato e meu irmão herdou o dom de também nos enredar com suas histórias.Passamos horas rindo com ele.
    As do meu pai são exageradas, quase mentirosas, mas me remetem a tempos que jamais estive, a lugares que nunca andei e a lembranças de pessoas que nem conheci.
    Um café, pão de queijo e um causo, prá que mais?
    Besitos

  • Vou providenciar um lenço para mim e um chapéu para o Marido…quem sabe a paz reina…ou se "o pau torar",que seja com estilo!
    Minha mãe contava causos que faziam a gente morrer de medo quando crianças,mas depois que eu cresci ,ela contava os mesmos "causos"para os meus filhos e eu morria de rir, vê se pode! Gostei do post!
    Beijo!

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