CONSELHOS AO POETA INICIANTE

CONSELHOS AO POETA INICIANTE

 

 

 

Acabo de enviar o texto abaixo a um poeta que me solicitou uma consultoria. Como eu já havia tecido considerações no blog do poeta, minha apreciação final resultou um tanto genérica, o que me fez pensar em publicá-la aqui na expectativa de que ela possa ser útil a mais alguém:

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Caro poeta, prometi que lhe escreveria esta semana e por isso o faço, muito embora pelas impressões que deixei em seu blog você possa bem avaliar o que achei sobre o que li. Espantou-me a profundidade de seu conteúdo tendo em vista o fato de você ser tão jovem. Isso é bom para o seu texto, obviamente, e espero que seja bom para você como pessoa, muito embora eu saiba, por experiência, que a vida interior profunda torna bem mais difícil encarar a superficialidade da vida comum com que a maioria das pessoas se entretém.

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Sua poesia é boa, o que não significa que não precise de algum retoque. Quem escreve sabe a necessidade que sente de sempre remodelar os versos… dizem até que o poeta publica para ficar livre de seus poemas, para nunca mais ter que revisá-los – será? Alguns de seus poemas eu senti perfeitos, sem necessidade de serem ainda alterados, mas sugiro que releia aqueles mais discursivos e estude a possibilidade de neles imprimir mais ritmo através do uso de repetições, outros jogos de palavras e do emprego de versos com número aproximado de sílabas métricas.  

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Embora a história da literatura aponte poetas e poemas engajados, em essência a poesia não deve servir para nada, a não ser para salvar o poeta da própria existência e embelezar a de quem a lê. Assim sendo, se o poema começar a exigir muitas palavras e explicações, o que no fundo ele quer dizer é que não quer ser um poema: transforme-o em máxima, em crônica, em outra coisa qualquer. O poema deve ter as palavras necessárias à sua existência, não mais. Que essas palavras dialoguem entre si e se tornem interdependentes, que tenham som de música, rapidez e essencialidade de um respirar… e que sejam belas e suscitem beleza – sempre.

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Procure selecionar para a publicação poemas que tenham uma temática semelhante, para que seu livro soe coeso aos leitores que angariar. Não caia na tentação – comum em poetas iniciantes – de publicar de uma vez tudo o que escreveu até hoje. Nessas circunstâncias o livro dificilmente adquire a coesão a que me referi, sem mencionar que passa a exigir tempo para a leitura, o que um livro de poemas não deve fazer. O bom livro de poesias é aquele que você lê de um fôlego, até sem entender o que está lendo, levado pelo ritmo dos versos, pela musicalidade deles, pelo jogo de palavras e imagens. Depois dessa primeira leitura o leitor fará muitas outras, mas cada uma delas deve ser breve e, se possível, arrebatadora.

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No mais, linda vida para você e seus versos. Que ganhem o mundo, que cumpram seu destino com todo o sucesso!
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Beijo&Carinho,
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35 thoughts on “CONSELHOS AO POETA INICIANTE”

  • Oba! Me parece que estou sendo o primeiro a coamentar.
    Mais uma aula que assisto com toda a minha tenção. Gosto de poesias que leio e vou logo entendendo. Estas muito rebuscadas e longas, vão me dando uma certa preguiça. Entendo, ainda que um texto para ser poesia,´há de haver em primeira mão sentimento e depois filosofia. Portanto, entendo, que fazer poesia não é rimar, sim, amar escrevendo.
    Até a volta… 🙂

  • Jussara:
    Considero esse post de muita utilidade para quem se atreve a escrever versos, poemas, poesias.
    Tenho visto e lido cada coisa na Internet, que é de lascar.
    Parece que está virando moda, todo mundo se considerar poeta, só porque junta um amontoado de palavras e publica num blog.
    Se a moda pega, vai ser um Deus nos acuda, rsrsrsrssr.
    Bjs.:
    Sil

  • E o poeta, agradecido, seguiu adiante. Com a certeza de que os erros apontados por você não são postas fechadas e sim janelas que se abrem para o seu crescimento. Senti,em seu texto, a doçura de um olhar que incentiva e a mão firme de quem indica o caminho.

  • Ju poesia é puro encantamento e em muitos casos eu afirmo que é dom. Não é meu forte, aliás está longe disso. Seu conselho, sua avaliação são palavras que se levam para o resto da vida. Suma importância, para reavaliar e avaliar as mudanças na escrita.

    Há, tenho que compartilhar com você minha vida acadêmica. Estou nas nuvens… apaixonada, enfeitiçada em estado de adoração pela Pedagogia. Tenho certeza que fiz a escolha certa no curso e na universidade. Que esse amor me movo pelo resto da minha vida, seja uma eterna aprendiz.

    Beijo grande e carinhoso!

  • Essa postagem é bem mais do que uma aula de como se escrever poemas, é uma partilha de experiência e respeito que muito me agradou.
    Considero que ser poeta é um estágio acima de ser um escritor! Escrever textos interessantes e com ideias bem colocadas, sem faltas ou excessos, já não é algo fácil, mas quando se pretende condensar muitos sentimentos em poucas palavras, com sentido e ritmo, tem-se a ambição de fazer poesia. Aí o bicho NÃO pega!!! Me veem fragmentos interessantes, que geralmente não se desenvolvem ou unem bem com o que deveria formar um bom trecho de poema. Espero alguns dias, às vezes semanas, para ver se as horas fermentam uma boa liga para as ideias, mas nada! Meu bolo literário fica solado e feio, se torna um rascunho fragmentado num pedaço de papel, que guardava dentro de cadernos, esperando dias melhores que nunca chegaram.
    Por empirismo já havia percebido que um bom poema nasce pronto, de uma só vez, como quem prende a respiração embaixo d’água até o limite do fôlego e, após um esforço para chegar à superfície, enche os pulmões de ar com prazer e alívio. Só que no poema fazemos o caminho inverso: colocamos para fora a sensação que nos tira o fôlego, sentido a paz de parir aquele ser literário e ver a cara dele fora de nós.
    Das dezenas de poemas que fiz quando era jovem, apenas uns três ou quatro são dignos atualmente de serem considerados como tal e mostrados. Os demais, não teve reciclagem que os salvasse. Uns eram grandes demais, e como foi dito aqui, tinham mais a ver com crônicas do que poesias; outros eram desabafos úteis para o momento, jogando no papel o que a garganta não tinha capacidade ou coragem para externar, mas hoje são pedantes e/ou irritantes.
    Lendo esta postagem, me senti fazendo uma autópsia em meus poemas que morreram antes de nascer. Quando se ouve (lê) quem tem conhecimento e sabedoria para explicar algo, parece tão óbvio e simples… “como não percebi isso antes?!” Se anos atrás tivesse lido o texto desta postagem, teria evitado muito esforço desnecessário e provavelmente teria alcançado resultados melhores.
    Enfim, aos meus 43 anos sei que não tenho capacidade para ser poeta, mas me conformo e me motivo em escrever crônicas e contos, que considero mais alcançáveis do que poemas.
    Não bastasse a utilidade das palavras, tem a beleza das imagens da postagem. Tudo de bom! Parabéns.

  • Jussara,

    Que puta inveja! Como faço para conseguir um parecer assim? (rsrs…)

    Perfeito:

    objetivo,

    sintético,

    claro,

    afetivo.

    Estético? Extremamente estético,
    na melhor esteira de um Rainer Maria Rilke.

    O que dizer de "em essência a poesia não deve servir para nada, a não ser para salvar o poeta da própria existência e embelezar a de quem a lê", senão "amém"? Lindo lindo lindo, três vezes lindo!

    Enfim, magnífica injunção, querida amiga!

    Um março estonteante para você,
    Roberto

  • Mais uma aula para mim. Desde que escrevi "Cacos da memória" tenho a impressão que a minha praia possível é a prosa: crônicas, contos, por aí… Cometi um único poema – Louvação – em homenagem aos meus pais, num momento em que estava de cama, fragilizado e estressado pelo estado de inoperância em que me encontrava. Não estava no meu estado normal e cometi os versos. Será a poesia uma doença?(rs rs)
    Brincadeira à parte, creio que a poesia é uma super-síntese de sentimentos e imagens, por isto requer a palavra exata, expressiva e musical, talvez fácil aos poetas, mas quase impossível aos seres comuns.
    Estou preparando um livrinho infantil com várias histórias narradas em versos. Apesar de alguns dizerem que tudo é poesia, considero o que estou fazendo apenas uma narração rimada, se é que se pode dizer assim. Espero que as crianças gostem e que os poetas me perdoem. Adorei a aula acima. Abraços.

  • Oi Jussara querida

    Admiro todo seu conhecimento e o jeito que passas pra outras pessoas.

    E esses trabalhos manuais, entre uma explicação e outra, achei lindos.

    Quanto ao seu agradecimento, fiquei muito feliz que tenha gostado da passarinha,

    eu fiz com muito gosto, agradeço as palavras tão gentis.

    beijo carinhoso e ótima semana

    Regina Célia

  • Ótimos conselhos Jussara.

    Escutei-os como se fossem pra mim.

    "A poesia serve para salvar o poeta da própria existência e embelezar a de quem a lê."

    Lindo isso.

    Bjo.

    AnaVi.
    filhadejose.blogspot.com

  • Jussara, fico fascinada pela maneira como você transforma em poesia qualquer texto em prosa, até mesmo um que tinha o objetivo de ser técnico. Como não tenho a poesia dentro de mim, nunca imaginei que um poeta pudesse publicar seus poemas para não ter que revisitá-los, muito interessante. Abraços.

  • Ju, você falando faz parecer tão fácil escrever poesias! Mas creio que esse dom é pra poucos… acho lindo! Já li algumas que você postou e admiro muito a facilidade que tem de colocar em palavras bem organizadas as coisas da vida e do coração. Obrigada por dividir com a gente essa sua maneira de ver as coisas! =)
    Bju, flor! Fica com Deus!

  • Texto lindo… sempre gostei de ler poesias. Carlos Drummond e Fernando Pessoa fizeram parte da minha história. Mas escrever poemas nunca foi meu forte. Sempre acreditei que a poesia vinha do coração. Talvez eu não seja forte o suficiente para expressar em palavras o que se passa no meu coração.

    Beijos!

  • oi Ju

    Que orgulho poder ensinar, avaliar, dar dicas, aconselhar outros iniciantes!!
    Fico até com vergonha qdo venho aqui porque entendo nadinha de poesia!
    Amiga, parabéns pelo noso dia e um ótimo findi pra você!

    bjus
    ana maria

  • Olá guria,
    que linda análise fizestes, fiquei curiosa quando aos versos analisados. Parabéns pelo maravilhosos trabalho. Esse era um exercício que eu gostava muito, de analisar poemas, na época da faculdade.
    Bjos e feliz dia da mulher.

  • Oi, Ju,

    Neste post você uniu a conceituação do poema com um roteiro para escrevê-los, sem deixar sequer de aconselhar o candidato à publicação de livro do gênero, a selecionar os poemas com temática semelhante, rsrs. Já memorizei as palavras abaixo:

    "O poema deve ter as palavras necessárias à sua existência, não mais. Que essas palavras dialoguem entre si e se tornem interdependentes, que tenham som de música, rapidez e essencialidade de um respirar… e que sejam belas e suscitem beleza – sempre".

    Mas o texto inteiro é oportuno e muito útil, thanks! rsrs.

    Um beijo e bom fim de semana, querida!

  • Jussara,

    Senti vontade de revisitar seu texto. Já o comentei, mas há tantas riquezas encantórias e reflexivas que ele se configura uma ancoragem obrigatória para se falar de poesia, para se falar de literatura.

    Você, consciente ou inconscientemente, dialogou com um postulado de TODOROV, que diz que

    "a literatura, sabemos, existe precisamente enquanto esforço de dizer o que a linguagem comum não diz e não pode dizer. Por esta razão a crítica (a melhor) tende sempre a se tornar ela mesma literatura: só se pode falar do que faz a literatura fazendo literatura. É apenas a partir desta diferença relativamente à linguagem corrente que a literatura pode se constituir e subsistir. A literatura enuncia o que apenas ela pode enunciar."

    Você fez isso ao tecer sua crítica aos poemas do "jovem" poeta, isto é, você fez literatura. Uma boa literatura.

    Em certo momento do texto, você lança um belo questionamento:

    "Quem escreve sabe a necessidade que sente de sempre remodelar os versos… dizem até que o poeta publica para ficar livre de seus poemas, para nunca mais ter que revisá-los – será?"

    Perdoe-me, mas tentarei responder à sua pergunta com outra pergunta: por que não? Por que o poeta não deve publicar seus poemas para ficar livre deles? Afinal, como diz o próprio TODOROV, "a imperfeição é, paradoxalmente, uma garantia de sobrevivência". Ou não?

    Abraço,
    Roberto

  • Oi Jussara,
    Não sabia que vc prestava este tipo de consultoria. Não entendo nada de poesia, apenas gosto e pronto, mas as suas palavras me soaram muito sábia.
    Tenha uma final de semana maravilhoso.

    GOSTO DISTO!

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