“O POETA É UM FINGIDOR…” E O EU-LÍRICO, QUEM É?

“O POETA É UM FINGIDOR…” E O EU-LÍRICO, QUEM É?
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Ao escolher a palavra “fingimento” para expressar a situação vivida pelo poeta – a de revelar sentimentos não necessariamente seus – Fernando Pessoa reivindica para a poesia o mesmo “direito” exercido pela prosa: o de criar personagens.
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Na prosa, entretanto, as personagens figuram dentro de um enredo em que tempo e espaço lhes conferem verossimilhança, ou seja, as situações vividas dentro de um determinado cenário, numa certa época, fazem com que a personagem pareça um ser de verdade. No caso da poesia não há enredo; há uma voz que fala, em versos, de emoções geradas por situações que não são descritas, mas apenas sugeridas.
Ora, antes que o poeta português deixasse claro que em versos também é possível criar uma personagem, havia muita confusão sobre os sentimentos expressos no poema serem ou não aqueles experimentados pelo poeta. Hoje se sabe que a voz do poema pode até exprimir emoções nascidas de vivências do autor, mas que não se deve considerar isso uma regra: as emoções podem ser imaginadas, criadas, “fingidas”.
O eu-lírico, portanto, não é o poeta, da mesma forma que o narrador de um romance não é, necessariamente, o seu autor. O eu-lírico é uma espécie de personagem dos textos poéticos que, justamente por estar fora do espaço/tempo que caracteriza os romances, está apto a representar a abstração dos sentimentos.
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Porque poesia para ser boa, para ser poesia de verdade, não fala de um amor, de uma paixão, de uma dor ou de uma alegria específicas, mas, a partir dessas experiências concretas, delas retira o que é fato e as eleva à categoria de abstração: fala-se, assim, do Amor, da Paixão, da Dor ou da Alegria, sentimentos eternos que não pertencem a um ser específico, mas à espécie humana; que não se prendem à uma época apenas, mas podem ser vivenciados em qualquer tempo; que não estão restritos a um lugar, pois podem ser vividos em qualquer canto do mundo.
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              Beijo&Carinho,

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Crédito da imagem em destaque, aqui. 
Imagem do corpo do texto, Google Imagens.
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28 thoughts on ““O POETA É UM FINGIDOR…” E O EU-LÍRICO, QUEM É?”

  • QUE TEXTO BACANA, CONTERRÂNEA!!!
    ALTEREI O NOME DA TUA DOG PRA LULU, TÁ? KKK
    TEM HISTORINHA NOVA HOJE, NO BLOG DOS MEUS GATOS. LEIA, QUANDO PUDER.
    TENHA UM LINDO DOMINGO E UMA ÓTIMA NOVA SEMANA!
    ABRAÇÃO PROCÊ E INTÉ MAIS VÊ!! 🙂

  • Ju, obrigada pelas menções no post do sorteio. Fico feliz em poder ser útil. Amo poesia de uma forma contraditória: adoro ler e ensinar, mas não tenho um só verso de minha autoria, como já lhe disse em outros comentários. Essa eterna dúvida sobre os sentimentos do eu-lírico envolve a poesia com interrogações e isso é o que mais me fascina.
    Vou encerrar com versos do próprio mestre Fernando Pessoa que sempre me provocam um desassossego positivo:
    (…)
    "Não sei se a vida é pouco ou demais pra mim.
    Não sei se sinto demais ou de menos.
    Mas seja como for, a vida,
    de tão interessante que ela é a todos os momentos,
    a vida chega a doer, a cortar, a roçar, a ranger,
    a dar vontade de dar pulos, de ficar no chão,
    (…)

    Abraços, Ju.
    Boa semana para você.

  • Oii Jussara, acho muito interessante a criação de personagens feita por Fernando Pessoa, não entendo muito de poesias e prosas mas sei que a mesma será eterna pois os assuntos e sentimentos que inspiram os poetas são eternos! Bjinhosss

  • Penso que quem escreve tem, com maior ou menor intensidade, esse mesmo jeito de "ver" as coisas.
    Inspirada por algum momento ou sentimento, a poesia pode até ser autobiográfica, mas nem sempre é assim. O texto é ótimo e a conclusão é perfeita! Amor, Paixão, Dor ou Alegria são sentimentos eternos que pertencem à espécie humana e podem ser vivenciados em qualquer tempo e em qualquer lugar.

    Sempre bom estar aqui, Jussara!

    Um beijo no coração e meu sempre carinho!

  • Oi Jussara, é a Vi,tipo assim, eu disse, mas não assumo meus sentimentos,kkk
    Quando a gente é adolescente escreve muito usando este padrão, afinal tentávamos camuflar nossas duvidas e medos, mostrando aos outros algo que na verdade não eramos.
    Gostei, afinal fazem décadas que estudei literatura e para ser franca, eu era especialista em colar e super preguiçosa para estudar;Hoje eu assumo que sou eu mesma que fiz a porcaria,kkkk
    Beijos,Vi

  • Com muita atenção e assimilando suas palavras, li seu post inteiro. Apaixonada por uma leitura, por Fernando Pessoa, por seus heterónimos, por sua poesia que depois de tanto anos, continua tão viva nesses novos tempo. E hoje, aprendi com sua última frase, a tempos procurava essa definição: "Poesia para ser boa, para ser poesia de verdade, não fala de um amor, de uma paixão, de uma dor ou de uma alegria específicas, mas, a partir dessas experiências concretas, delas retira o que é fato e as eleva à categoria de abstração: fala-se, assim, do Amor, da Paixão, da Dor ou da Alegria, sentimentos eternos que não pertencem a um ser específico, mas à espécie humana"…

    Por isso que me encanto com os poetas mais antigos. Pois eles retrata uma situação, uma experiência que pertence não só a época, mas a humanidade.

    Um beijo enorme e com muito afeto!
    Um dia cheio de dádivas…
    Lorena Viana

  • Jussara…
    Adorei saber disso!
    A gente lê poesia, mas não pensa nisso.. apenas lê. Muito interessante.
    Fernando Pessoa é um dos meus preferidos.

    Um ótimo restinho de semana pra vc…
    Beijos

  • Ju,muito legal o post.
    Sabe que eu vi a estante de bobina e lembrei de você, já imaginei na sua biblioteca,cheia de livros e servindo de apoio para um cafezinho recém coado.E a negociação com a vizinha,rolou ou não?
    Quanto as posts natalinos(quase escrevi navideños,derrr)sairão do forno toda segunda,pode esperar,idéias lindas e fáceis.
    Besitos

  • Oi Jussara
    Minas de mim também é cultura! Amei seu post,
    "O poeta é um fingidor.
    Finge tão completamente
    Que chega a fingir que é dor
    A dor que deveras sente".
    Adoro o poeta, filosofo que morreu tão cedo.
    bj e obrigada por compartilhar.
    yvone

  • Olá minha querida e respeitada Jussara, tudo bem?

    Como sempre posta lindas histórias, poesias e fatos muito interessantes, e essa não seria diferente…

    Obrigada pelo carinho……

    BJS!!!!!!!

  • Jussara querida!

    Quando há "uma voz que fala" dentro de mim, consigo escrever.

    Seu texto é sempre perfeito e completo. Estava já com saudades daqui.

    Escrevemos, minha linda. Talvez poesia, talvez prosa… O que vale é externar o sentimento em nós.

    Beijo no coração

  • Falar de Fernando Pessoa não é fácil. Ainda mais extrair de seus poemas considerações tão concisas como as que você fez deste fingidor. Adoro Pessoa, como um todo, como um poeta que tão bem incursionou por tres facetas tão distintas e deu a elas identidades distintas de tempos distintos. E você, mestra, capta como ninguém as nuances de Pessoa. Parabéns!

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