MANIA DE LIVROS E MANIAS DE ESCRITORES

MANIA DE LIVROS E MANIAS DE ESCRITORES
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Costumo registrar os meus livros como se faz numa biblioteca. Sou perfeccionista e tenho mania de arrumação, mas não se trata disso. É que como não paro de comprar livros, eles se acumulam e a catalogação facilita encontrá-los nas estantes, coisa que seria extremamente trabalhosa caso não utilizasse esse método.
Pois bem: há sempre uma pequena/grande pilha de livros esperando para receber carimbo, número de tombo, de chamada, etiqueta… Quando finalmente decido que chegou o momento de me dedicar ao registro, são tantos os livros para colocar nas prateleiras que a biblioteca – literalmente – se move. Livros registrados como “Filosofia” (com o número 100) precisam de mais espaço e “empurram” os “religiosos” (de número 200) para a prateleira de cima. Esses, por sua vez, fazem o mesmo com os livros seguintes e a Jussara segue limpando livros e prateleiras até que mais uma pequena/grande pilha de livros se forme, depois de algumas compras.
É trabalhoso, mas é um trabalho delicioso. Eu amo livros! Pelo conteúdo deles, sim, mas como objetos também. Gosto de possuí-los, de sentir seu cheiro de papel novo, acabado de sair do prelo, ou seu cheiro de velhice, de tempo decorrido desde a publicação, do manuseio por mim e sabe Deus por quem mais.
Gosto de anotar nas margens o que me chama a atenção; marco com lápis de cor as partes que considero poéticas e/ou filosóficas, com grafite ou marca-texto o que merece ser refletido, pensado, ruminado. Restauro aqueles que ameaçam perder as páginas, crio capas para os que as perderam… O dia se escoa muito rápido quando estou com os livros e embora eu continue a habitar este planeta, sinto-me como se tivesse sido dele arrebatada momentaneamente.
Desde ontem assumi a tarefa de fazer essa organização que há alguns meses – por motivos vários – vem sendo adiada. Coerente com esse momento resolvi compartilhar aqui algumas curiosidades sobre os escritores sobre cujos livros estou a me debruçar lá em cima (no meu sótão, onde fica minha biblioteca).
A maior parte dos comentários  abaixo eu já conhecia antes de recebê-los de uma amiga, por e-mail. Reescrevi a maioria, muito embora o trabalho de selecioná-los não tenha sido meu e eu não tenha nenhuma espécie de informação que me permita atribuir créditos por isso.
Ei-los:
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O escritor WOLFGANG VON GOETHE escrevia em pé. Ele mantinha em sua casa uma escrivaninha alta para esta finalidade.
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Goethe
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O escritor PEDRO NAVA parafusava os móveis de sua casa a fim que  ninguém os tirasse do lugar.
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Pedro Nava
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GILBERTO FREYRE nunca manuseou aparelhos eletrônicos, nem sabia ligar um televisor. Todas as suas obras foram escritas a bico-de-pena, como o mais extenso de seus livros, Ordem e Progresso, de 703 páginas.
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Gilberto Freyre 
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Como Superintendente de Obras Públicas de São Paulo, EUCLIDES DA CUNHA foi o engenheiro responsável pela construção de uma ponte em São José do Rio Pardo – SP.  A obra demorou três anos para ficar pronta, mas ruiu poucos meses depois de inaugurada. Euclides não se deu por  vencido e a reconstruiu, mas, por via das dúvidas, abandonou a carreira de engenheiro. 

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Euclides da Cunha
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MACHADO DE ASSIS ultrapassou barreiras sociais e físicas. Além da infância marcada pela pobreza, ainda era mulato – numa época anterior à abolição da escravatura – míope, gago e epilético. Enquanto escrevia Memórias Póstumas de Brás Cubas, foi acometido por uma de suas piores crises intestinais, com complicações para sua frágil visão. Os médicos recomendaram três meses de descanso em  Petrópolis. Sem poder ler nem redigir, ditou grande parte do romance para a esposa, Carolina.
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Machado de Assis
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GRACILIANO RAMOS era ateu, mas tinha uma Bíblia na cabeceira para apreciar os ensinamentos e os elementos de retórica. Por insistência da sogra, casou na igreja com Maria Augusta, católica fervorosa, mas exigiu que a cerimônia ficasse restrita aos pais do casal. No segundo casamento, com Heloísa, evitou transtornos: casou logo no religioso.
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Graciliano Ramos
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ALUÍSIO DE AZEVEDO tinha o hábito de, antes de escrever seus romances, desenhar e pintar sobre papelão as personagens principais,  mantendo-as em sua mesa de trabalho enquanto escrevia.
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Aluísio Azevedo
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JOSÉ LINS DO REGO era fanático por futebol. Foi diretor do Flamengo e chegou a chefiar a delegação brasileira no Campeonato Sul-Americano, em 1953. Em 1955, ao ser nomeado para a Academia Brasileira de Letras, ao invés de elogiar o antecessor, como de costume, disse que Ataulfo de Paiva não poderia ter ocupado a cadeira por lhe faltar vocação.
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José Lins do Rego
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Aos dezessete anos, CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE foi expulso do Colégio Anchieta, em Nova Friburgo-RJ, depois de um desentendimento com o professor de Português. Imitava com perfeição a assinatura dos outros a ponto de falsificar a de seu chefe durante anos a fim de lhe poupar trabalho. Ninguém notou. Tinha mania de picotar papel e tecidos. “Se não fizer isso”, dizia, “saio matando gente pela rua”.

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Carlos Drummond de Andrade
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Numa das viagens a Portugal, CECÍLIA MEIRELES marcou um encontro com o poeta FERNANDO PESSOA no Café “A Brasileira”, em Lisboa. Sentou-se ao meio-dia e esperou em vão até às duas horas da tarde. Decepcionada, voltou para o hotel onde a esperava um livro autografado pelo autor lusitano. Junto com o exemplar, a explicação para o “furo”: Fernando Pessoa havia lido seu horóscopo pela manhã e concluído que não era um bom dia para o encontro.
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Fernando Pessoa
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ÉRICO VERÍSSIMO era quase tão taciturno quanto o filho LUÍS FERNANDO, também escritor. Numa viagem de trem a Cruz Alta, Érico fez uma pergunta que o filho respondeu quatro horas depois, quando chegavam à estação final.
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Luís Fernando Veríssimo
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CLARICE LISPECTOR era solitária e tinha crises de insônia. Ligava para  os amigos e dizia coisas perturbadoras. Imprevisível, era comum ser convidada para jantar e ir embora antes de a comida ser servida.
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Clarice Lispector
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MONTEIRO LOBATO adorava café com farinha de milho, rapadura e içá torrado (a bolinha traseira da formiga tanajura), além de Biotônico Fontoura. “Para ele, era licor”, diverte-se Joyce, a neta do escritor. Também tinha mania de consertar tudo. “Mas para arrumar uma coisa,  sempre quebrava outra”.
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Monteiro Lobato
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MANUEL BANDEIRA sempre se gabou de um encontro com Machado de Assis, aos dez anos, numa viagem de trem, quando teria puxado conversa com o escritor: “O senhor gosta de  Camões?” E para mostrar que ele, mesmo aos dez anos, gostava, recitara uma estrofe de Os Lusíadas da qual o mestre não se lembrava. Na velhice, confessou: era mentira. Tinha inventado a  história para impressionar os amigos.  
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Manuel Bandeira
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GUIMARÃES ROSA, médico recém-formado, trabalhou em lugarejos que  não constavam no mapa. Cavalgava a noite inteira para atender a pacientes  que viviam em longínquas fazendas. As consultas eram pagas com bolo, pudim, galinha e ovos. Sentia-se culpado quando os pacientes morriam. Acabou abandonando a profissão. “Não tinha vocação. Quase desmaiava ao ver sangue”, conta Agnes, a filha mais nova.
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Guimarães Rosa
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MÁRIO DE ANDRADE provocava ciúmes no antropólogo Lévi-Strauss porque era muito amigo da mulher dele, Dina. Só depois da morte de Mário o  francês descobriu que o escritor era homossexual.
 Mário de Andrade
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VLADIMIR MAIAKÓVSKI tinha o que atualmente chamamos de Transtorno  Obsessivo-Compulsivo (TOC). O poeta russo tinha mania de limpeza e costumava lavar as mãos diversas vezes ao dia numa espécie de ritual  repetitivo e obsessivo.

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Vladimir Maiskovski
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A preocupação excessiva com doenças fazia com que o escritor de origem  tcheca, FRANZ KAFKA, usasse roupas leves e só dormisse de janelas abertas, para que o ar circulasse, mesmo no rigoroso inverno de Praga.
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Franz Kafka
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O escritor norte-americano ERNEST HEMINGWAY passou boa parte de sua  vida tratando de problemas de depressão. Apesar de contar com ajuda especializada, o escritor foi vencido pela tristeza e amargura crônicas. Hemingway deu fim à própria vida com um tiro na cabeça.
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Ernest Hemingway
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No início dos anos 50, VINICIUS DE MORAES morava num minúsculo apartamento em Copacabana, sem geladeira. Para aguentar o calor, chupava uma bala de hortelã e em seguida  bebia um copo de água para ter sensação refrescante na boca.

 

Vinícius de Moraes
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Para autorizar a adaptação de Gabriela, cravo e canela para a TV, JORGE AMADO exigiu que o papel principal fosse dado a Sônia Braga. Quando os jornalistas quiseram saber o motivo, ele respondeu: “Nós somos amantes”. Ficou todo mundo de boca aberta. Quando Sônia apareceu, ele se levantou e, muito formal disse: “Muito prazer, encantado”. Era piada; os dois nem se conheciam até então.

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Jorge Amado
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Como esta blogueira, o poeta PABLO NERUDA tinha mania de coleções. Colecionava conchas, navios em miniatura, garrafas, bebidas, máscaras, cachimbos, insetos, quase tudo que lhe passava pela cabeça.

 

Pablo Neruda
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Agora me diga:
não tem razão o ditado que diz que  “de poeta, médico e louco, todos temos um pouco”?
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Beijo&Carinho,
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.Na imagem em destaque, Agatha Christie aparece cercada de livros. Agatha escreveu seu primeiro livro para ganhar uma aposta com a irmã Madge. Sua primeira obra levou cinco anos para ser publicada e foi rejeitada por seis editoras.
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24 thoughts on “MANIA DE LIVROS E MANIAS DE ESCRITORES”

  • Oi Ju, tudo bem? Amei ler cada uma dessas histórias e saber um pouco mais sobre cada um desses maravilhosos escritores. Mas, sem dúvida alguma, a que mais me impressionou foi a de Machado de Assis. Para mim, foi uma mostra de determinação e amor à sua arte, sem contar que ele só poderia ter um amor verdadeiro e forte com a esposa, pois ela foi suas mãos e seus olhos numa obra tão importante.
    Que bom que temos você para nos contar todas essas curiosidades!
    Beijos e ótima semana!!!

  • Ju querida, não sei como te agradecer por ter me ajudado, vou levar aquelas palavras comigo sempre, inclusive ganhei um banco de pracinha, todo de cimento, vou gravar uma citação nele, estou escolhendo uma frase da citação que me enviaste! Ainda estou em fase de mudança, ajeita aqui, ajeita acolá. Muitos móveis estão passando por uma reforminha, porque não tem móvel que aguente a mudança. Minha casa é bem simples e gosto somente do necessário, daquilo que realmente uso, mas isso vem de mim, do meu jeito. Então quando tiver tudo prontinho, vou mostrando aos poucos.
    Você é um presente que Deus colocou na blogofesra, sempre que venho aqui minha alma se enche de conhecimento e novidades, jamais lida antes.
    Li cada comentário dos escritores, alguns eu conhecia, outros não. Os que não conheço, passei pro word e vou imprimir como etiquetas, para colocar em anexo nos livros que tenho em casa…
    Hum, queria ver sua biblioteca, adoro sempre ver inspirações de organização e vindo de você, que é perfeccionista, amo demais!
    Ju querida, obrigada por sua atenção e carinho, apesar de não nos conhecer, sinto você presente através de suas palavras.
    Uma linda e abençoada quarta-feira!
    Beijinhos.
    Lorena Viana

  • Jussara,
    Como vc eu adoro o cheiro de livro novo, adoro comprar livros. Mas ainda não cheguei a colocar tombos e nem numeração nos meus livros. Ainda não chegam a tantos assim.
    E amei as curiosidades dos autores. Muito bom.
    Beijos
    Adriana

  • É, CONTERRÂNEA… DIANTE DE TANTOS MENTORES LITERÁRIOS AQUI VISTOS E DESVENDADOS, SÓ TENHO UM CONCLUSÃO A CITAR: "CADA LOUCO, COM SUA MANIA!"
    KKKKKKKK
    NÃ, NÃO… AGORA SÉRIO MESMO! ESSES HOMENS E MULHERES SÃO INDESCRITIVELMENTE INSPIRADORES PRA TODOS OS AMANTES DAS PALAVRAS. FORAM AS FONTES MAIS LÍMPIDAS DO SABER, TRADUZIDO DE MODO SOBERANOS EM CADA VERSO QUE DEIXAM EM SEUS PAPÉIS TÃO PRECIOSOS. E VIVA NOSSA LÍNGUA, E VIVA TÃO ILUSTRES SERES.
    VIVAAA!!
    TEM NOVIDADE PRA SE VER E LER NOS MEUS TRÊS BLOGUINHOS. APAREÇA, É SEMPRE UM PRAZER RECEBÊ-LA!!
    ABRAÇÃO PROCÊ E INTÉ MAIS VÊ!!!

  • Sim Ju. Todos nós somos um pouco de médico e de louco. Algumas manias e curiosidades de escritores eu já conhecia, outras não. Estou linkando esse post na minha dica de leitura. OK? – Obrigada pelas visitas! Bjaum!

  • Oi Jussara! Que interessante post! Gostei tanto que depois virei novamente para ler com mais calma….como gosto de fazer.
    Quanta coisa interessante sobre os escritores….maravilha saber!
    Olha, as manias por livros que vc tem, também tenho. Desde criança. Gosto imensamente do cheiro de livros novos. Tenho um carinho todo especial por livros antigos, de capa dura, páginas amareladas…
    Também costumo fazer antações e marcações nos cantinhos….
    Tenho um livro special que já reli pela enésima vez. Foi um presente de uma amiga da minha mãe. Um livro antigo , sem capa, com algumas folhas soltas e com páginas amarelas….SAUDADE, de Tales de Andrade. Guardo esta relíquia com muito carinho. Ele data de 1958.
    Não sei se vc o conhece…
    Amei o post, viu?

    Bjos. =)

    http://baudaarteira.blogspot.com/

  • Vc tem razão e foi nisso mesmo que pensei, descobrindo as manias e peculiaridades de cada um durante o texto,rsrs…Eu também tenho uma mania engraçada, segundo os filhos: começar qualquer frase com "não", para depois concordar ou discordar, mas acho que já é parte do peso da idade,rsrs…
    Bjnhos,Ana

  • Jussara!!!

    Primeiro, queria te agradecer o presente.. Obrigada por falar um pouquinho dessas figuras maravilhosas..
    Confesso que muita coisa que escreveste sobre eles, não conhecia.. E sobre voce! Que delicia te conhecer um pouquinho mais.. Consigo sentir aqui em Nice o teu amor pelos livros, o teu prazer nesse momento. Tão bom isso!
    Bjuuu
    Joanna

  • haha… que post legal, Ju! Amei conhecer um pouco mais sobre esses escritores!
    E sua biblioteca no sótão? fico imaginando… meu pai também gosta muito de livros e cada um tem o carimbo com o nome dele, pq já cansou de emprestar e nunca mais ver… então com o carimbo, ao menos a pessoa se lembraria de quem era o livro.
    Bjinhos pra vc, flor, fica com Deus e boa arrumação aí! hehe

  • MINHA CARA COLEGA… POSTEI UMA BRINCADEIRA BEM BACANA LÁ NO BLOG DOS MEUS GATOS E VOCÊ, É UMA DAS CONIDAS A PARTICIPAR. APAREÇA POR LÁ!!
    ABRAÇÃO PROCÊ E INTÉ MAIS VÊ!!!

  • Querida Jussara!
    Como andei bem ausente por esses dias, fiquei por aqui lendo os teus posts passados. E no meio de tantos belos posts, adorei em especial descobrir este daqui, com as curiosidades e manias de tantos famosos escritores… Que interessante! E lendo este teu delicioso texto, fiquei daqui impressionada com todas estas singularidades humanas, que de certo modo traduzem a nossa natureza tão especial: Somos realmente todos tão iguais e ao mesmo tempo tão diferentes!
    Mas acredito que a maior semelhança de todas, e o melhor de tudo isso, esteja mesmo nesta nossa essência de "criadores", cujo destino de "criar", reflete a divina natureza, semelhança, de nosso próprio Criador.
    Beijos, querida e parabéns pelo belo e genial post!
    Teresa

  • kkkkk

    amei o post.

    legal demais saber das manias dos escritores.

    Quando somos fãs de alguma pessoa não pensamos nos limites e manias delas né?

    Lendo esse poste fico mais tranquila com minhas loucuras e manias…

    bjo

    filhadejose.blogspot.com

  • Olá, Jussara! Depois de tanto tempo, dei uma passadinha aqui pelo seu blog. Adorei este post. Sou também maníaca com livros, não só no conteúdo, mas, como diz você, com o objeto. Quando compro algum pela internet, fico ansiosa para que chegue, igual a uma criança esperando um presente que tanto queria. Amei as "curiosidades" sobre os escritores. Conhecia algumas, mas a do Goethe, foi a melhor, sem dúvida.
    No mais, saudades… Grande abraço!
    Keilla

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