LIÇÕES DE PAINEIRAS

LIÇÕES DE PAINEIRAS

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Se não estou enganada, foi Goethe quem disse que “viajamos não apenas para chegar, mas para viver enquanto estamos viajando”. Pensei nisso, dia desses, quando a estrada se desdobrava diante dos meus olhos – cada quilômetro vencido, mais próxima do meu destino.

Enquanto rolavam distâncias, despretensiosa a paisagem se oferecia em nuances de verde, em montanhas e vales, açudes e rios. Salpicadas, aqui e ali, cores de árvores diversas: laranja dos flamboyants, roxo das quaresmeiras, amarelo vivo de uma acácia, branco-cinza-prateado – lindo em meio ao verde – que nem imagino a que árvore pertence. Além dessas cores, sobressaía em quantidade o rosa das paineiras a se erguer em contraste com o céu azul ensolarado, em meio às matas, cercas, barrancos, quintais… Foi por me sentir invadida pelo prazer de estar viva e poder desfrutar aquela beleza rósea que pensei na frase de Goethe.

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Parte do prazer de viajar no verão vem da beleza que as paineiras ofertam nessa época. Quando chega o outono suas folhas caem e elas ficam nuas, a beleza garantida apenas pela elegância de seus portes e pela surpresa dos frutos que lembram mangas verdes.

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No inverno esses frutos, já secos, rompem-se e soltam pelo ar flocos macios e brancos de paina. O vento frio os arrasta e no terreno próximo parece haver nevado.

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Conheço bem as paineiras porque a rua onde moro se orgulha de possuir uma. Eu me orgulho. E já prometi passeatas e faixas e mídias quando ameaçaram cortá-la.

Quando me mudei para esta rua éramos ambas muito jovens, a paineira e eu. Ela ainda não havia experimentado sua primeira floração; eu quase não havia experimentado coisa alguma.  Aos poucos, no seu silêncio de árvore, foi a paineira me ensinando a sabedoria de deixar fluir o tempo e de se transformar com ele, de sair da nudez coberta de flores.

Quando hoje me assalta a tristeza, penso em que espécie de paina tenho eu a ofertar… então escrevo. Minhas palavras são os flocos de paina que assopro pelo ar. Quando a alegria me ganha, sinto-me florida como as paineiras no verão.

Parte da beleza palmilhada nessa época está nas paineiras floridas que por si sós justificam a viagem – suas flores a lembrarem delicadas orquídeas rosas a contrastarem com o verde e o azul.

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Beijo&Carinho,.

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Crédito da imagem em destaque, aqui.

Demais imagens, Google Imagens.

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33 thoughts on “LIÇÕES DE PAINEIRAS”

  • Ai, que lindo… adorei as fotos!
    Acredita que logo fui procurar o significado de "paineira" em espanhol? Nao achei 🙁 Mas penso que deve existir traduçao, porque na Wikipedia li que tem essas árvores em Bolívia também… Em quanto à frase de Goethe, eu sempre a usei (sem saber o autor) porque acredito que mil vezes melhor que o destino e o caminho… se a gente viaja 1. com os olhos bem abertos pra nao perder as belezas do entorno 2. com boa disposiçao, e… 3. em boa companhia!! 🙂 Beijo

    • Palo borracho é como chamam a paineira na Argentina!
      Belíssima página! PArabéns à escritora e fotógrafa! Um presente passear por aqui e encontrar esse texto maravilhoso e tão sensível!
      Obrigada,
      Magnólia

  • Oi Ju
    O caminho é sempre o melhor da viagem. Adorei seu texto e as imagens.

    Quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.
    (Cecília Meireles)

    e não é que é mesmo?
    bj grande
    yvone

  • Olá Jussara, que imagens belas, amiga! Parabéns pelo post!
    Viajei e fui até lá…Sou nordestina, mais precisamente Potiguar, porém, tenho o coração mineiro, não sei a razão…rrsss…
    amo tudo o que refere-se à Minas Gerais…
    Estou seguindo teu blog e te convido a seguir o meu…
    http://baudaarteira.blogspot.com/
    Olha, coloquei o link do teu blog no meu, viu? Um blog assim merece ser divulgado ….Parabéns!
    Beijos…:))

  • DELWEISS – fico tão feliz quando encontro um comentário seu! Concordo com as suas 3 regrinhas para uma boa viagem… e espero que me diga, quando descobrir, como é a tradução de paineira para o espanhol…

    SILMARA e ANA – para quem vive do ofício das palavras, não há melhor paga que receber elogios como esse com que me presentearam. Obrigada, queridas!

    ROGÉRIO, GLORINHA E LÊDA – obrigada!

    YVONE – obrigada pela lembrança da Cecília… nossa, como veio a calhar! Obrigada pelo carinho comigo e com meus escritos!

    ISABEL – uma potiguar com coração mineiro? Que coisa linda! Obrigada pelo carinho para com o meu blog. Claro que vou querer conhecer o baú de uma arteira que ama as coisas de Minas! Abraço!

  • ÔÔh, de casaaa…rsrs…
    Adorei seu texto, lindo.
    Lindas as paineiras,aqui a que mais se parece com a florada das paineiras são as amendoeiras,que se vestem de branco e um rosa claro.
    Depois caem todas as flores, e nascem folhas e frutos.
    Besitos e linda semana.

  • Jussara que delícia vim aqui e entrar em paz quando vejo essas lindas fotografias, cheia de sensibilidade.
    Quando fazia o técnico em turismo, o trajeto era tão importante quanto o conhecimento do lugar.
    Quando comecei a ler seu post, suas letras, juntos com a natureza me soavam como música.
    Beijinhos cheio, muito cheio de carinho!
    Um abraço apertado.
    Lorena Viana

  • MI – As amendoeiras também devem ser lindas… qualquer dia desses faz um post com elas pra gente! Obrigada pelo elogio ao texto. Fico tão feliz! =)

    ANA – Que alegria para mim ter sido eu a lhe apresentar a paineira! AMO essa árvore! Realmente, um presente da natureza. Faz-me lembrar um versículo bíblico que diz: “Que variedade, Senhor, nas Tuas obras! Todas as coisas fizeste com sabedoria!” Verdade, não é?

    LORENA – Que bom saber que no curso de turismo ensinam a importância do trajeto! Amei saber! Obrigada, querida, por sua companhia. Fico muito feliz que tenha gostado do texto e sentido harmonia entre palavras e imagens!

    SISTER – Obrigada! Vou dar uma olhada lá com certeza!

    Abraços!

  • Também andei a viajar neste fim/início de ano. O melhor passeio foi por entre a mata atlântica, uma beleza! Que bela crônica e que belas imagens! Creio que no meu bairro existe uma paineira, mas não conheço bem. Vou tentar usar a memória dessas imagens (das flores) para certificar-me. Abraços.

  • Acho que não conheço a árvore. Mas é linda, principalmente quando em flor.
    Parabéns pelo texto e pelas fotos, belíssimos.
    E parabéns pelo teu dia, o da Mulher.
    Continuação de boa semana, amiga Jussara.
    Beijo.

  • A Natureza passa o tempo a enviar-nos sinais, assim nós os saibamos de ler.
    Gostei dessa escrita límpida, Jussara. A sabedoria caminha por essas bandas.

    Um abraço 🙂

    • Gostei do adjetivo escolhido para caracterizar minha escrita. Obrigada! Significa muito, vindo de um de meus escritores preferidos. Abraço!

  • Que lindo relato, em minha infância também tinha uma paineira.
    Menina perdi minha agenda telefônica, outro dia queria falar contigo e nem no blog consegui entrar. Quando puderes me dá um oi na whats para salvar teu numero novamente. Meu filho peço a ele para arrumar meu telefone ele formata e perco tudo que tem no telefone.
    Bjos tenha um ótimo fim de semana.

    • Oi, Anajá! Vou lhe mandar uma mensagem ainda hoje para que você salve novamente meu número. Estou com o trilho, que você fez, na mesa de minha sala de jantar. Obrigada – sempre – por essa beleza. Abraço!

    • Hummm… um arbusto de Dama da Noite é um lindo presente… perfume delicioso! Obrigada, Betty, pela visita, fico feliz que tenha conseguido comentar!

  • cheguei p conhecer a árvore paineira e acabei por me tornar flor de tanta poesia, sempre achei tbm, assim como Goethe, q as viagens começam a partir do momento que se põem em movimento, muito grato!

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