GRAMINHAS NA CALÇADA

GRAMINHAS NA CALÇADA
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No meu tempo de colégio eu percorria um longo trajeto a pé para assistir às aulas. Talvez por isso fosse tão magrinha, talvez por isso tivesse tantas imagens com que ocupar o pensamento quando as aulas eram más: a camada fina de geada sobre os carros que passavam a noite ao relento, os olhos amarelados de um gato que surgia do nada, o fumeiro a empilhar sua produção – o cheiro de fumo no ar, pacotes de pão carregados com pressa, graminhas a brotarem de pequenos ferimentos na calçada…
Eu achava a coisa mais poética, mais linda, mais divina essa força de vida capaz de vencer o concreto e fazer existir. Ainda acho, muito embora a dona de casa que hoje sou não goste muito delas e quase sempre as queira exterminar. Naquele tempo, entretanto, enquanto me dirigia ao colégio, chegava a fazer breves orações, grata a Deus pelas graminhas que arrebentavam o cimento das calçadas, grata por vê-Lo nelas, por elas sobreviverem.
Dia desses recebi por e-mail uns slides com inusitadas imagens representativas da arte urbana. Uma delas me fez voltar imediatamente a esse tempo do colégio ao identificar a poesia das graminhas reconhecida e valorizada por alguém que não perdeu o olhar que na adolescência eu tive:
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Na fresta da calçada irrompe a vida na cor verde, em forma de grama. O pintor reconhece a poesia da situação e a amplia ao transformar as graminhas em pompons de uma líder de torcida. Os braços erguidos da menina a agitar os pompons e a sugestão de movimento nas pernas, pelo fato de uma delas estar erguida e a outra flexionada, implicam num quadro de alegria que certamente reflete aquela experimentada pelo artista ao descobrir as graminhas sobreviventes; semelhante, acredito, à alegria que eu experimentava a ponto de orar, agradecida.
Duas outras imagens que vieram entre os slides, embora não partam das graminhas, mas, sim, de trepadeiras em muros, são dignas, também, de serem postadas aqui por revelarem o mesmo inesperado olhar do artista que percebe poesia e VIDA onde outros só veriam o cotidiano. Numa delas a trepadeira faz às vezes da cabeleira de uma mulher, ao passo que, na última – encantadora – Calvin e Haroldo (do norte-americano Bill Watterson) se aventuram descendo pela planta.
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A autoria das duas primeiras artes/fotos é de Sérgio Bastos. Não consegui localizar a autoria da terceira. Se você souber de quem é a arte/intervenção na natureza, deixe, por favor, nos comentários.

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Poeminha do meu tempo de colégio:
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DEUS

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Não tinhas nome – eras.

Tuas mãos moldaram, então, teu Amor

em forma de terra, água, luz, gente.

O tempo nasceu.

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O mistério do teu ser

continua a envolver a vida

(própria essência dele)

e continuas sendo.

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E tuas manhãs e tuas estações

vêm me falar de ti

– teus ventos e tuas chuvas…

então me calo

e com parte do teu Amor

te amo e te agradeço

por te dares a mim:

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por eu poder te ver

até mesmo nas graminhas

que arrebentam o cimento das calçadas,

e sobrevivem!

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Beijo&Carinho,

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31 thoughts on “GRAMINHAS NA CALÇADA”

  • Jussara, que delicia começar o dia lendo seu post. Esta é a minha primeira visita do dia de hj. Como sempre, boa leitura e imagens legais, fofa demais a primeira.
    Bj

  • Bom dia, Jussara!!!

    Nós, que adoramos escrever, sempre percebemos esses detalhes por onde andamos. Eu me lembro de meu trajeto qdo ainda estava no colégio, e de todos os detalhes, com as graminhas, os muros descascados, os postes com ninhos de pássaros, os pares de tênis pendurados na fiação elétrica…
    Como se esquecer disso?

    Adorei me lembrar de tudo isso!

    Beijos, ótima semana pra vc!

  • Oi, Ju (olha a intimidade, quem deu? rsrs)

    Lendo o post me senti irmanada a você, por causa desta percepção ou sensibilidade com relação às coisas da natureza, muitas delas insignificantes para muitas pessoas, rsrs.
    Já os trabalhos de arte, que fazem uso desses elementos, nos testemunham que há outras pessoas com a mesma percepção e sensibilidade, não é verdade? Gostei das imagens, são criativas e poéticas. E gostei do seu texto!

    Um beijo e boa tarde!

  • Oi Jussara! Confesso que por aqui extermino os matinhos (pq aqui só crescem matinhos) que insistem em surgir no meio da calçada e nas guias. Eles me incomodam até que bastante. Mas a segunda foto e a terceira foto ficaram muito legais, super criativas! É o urbano se unindo ao natural… lindo! Beijos!

  • Jussara, querida!

    Obrigada pela visita e pelo carinho. Fiquei muito feliz com o seu comentário.

    Jussara, seu texto é lindo, você escreve muito bem. Parabéns! Amei o seu post – que incrível esta arte urbana. Muito criativo. A menina dançando e o rosto com os cabelos das folhas… Impressionante, basta ter ideias!

    Tenha uma quinta feira muito feliz.
    Beijo grande

  • Oi Jussara,
    Eu tb ia a pé para o colégio e era bem longinho. O detalhe é que minha mãe dava aula no mesmo colégio, mas eu não queria descer de carro com ela, queria descer a pé com as coleguinhas.
    Adorei as imagens, muito criativas, mas a primeira me fez sentir culpada, pois estas graminhas estavam na minha calçada tb e eu coloquei mata-matos!!!
    Cheguei ao seu blog por acaso e estou gostando muito. Já estou seguindo e vou ficar muito feliz se vc tb me seguir.
    Beijos 1000 e uma ótima 5ª-feira para vc.

    http://www.gosto-disto.com

  • Oi Jussara, é a Vi,eu gostei D+ dessas fotos, muito criativo, lindo.
    Eu gosto de ver plantinhas no telhado, elas sobrevivem do pó acumulado e da nevoa da manhã, parecem pequenos milagres.
    Muitos beijos,Vi

  • Jussara minha querida! Sensibilidade ao extremo, acredita que aqui em casa possuímos um jardim e esses dias estamos ajeitando, passou alguns dias chovendo e criou um matinhos e outros pés surgiram, um encanto… ficou tudo verdinho, florido, cheio de perfume natural, perto da torneira que tem ao lado, criou a ferida mais encantadora que vi, brotou plantinhas ao redor! Eu, diante do amor por plantas, fiquei em estado de graça, de encantamento, por aquele fenômeno natura!
    Acho que quando amamos, cuidamos, vemos beleza nas pequenas coisinhas, que pra mim são magníficas!
    Acredito que é isso que nos inspira, a natureza.
    Essa ideia da menina com o pom pom, adorei, colorindo mais a vida.
    Um doce fim de semana!
    Um beijo enorme.
    Lorena Viana
    pequena-prendiz.blogspot.com

  • Olá minha linda, saudades tbm…. ando meio sumida pois Laurinha internada desde o carnaval, ela vai passar por uma cirurgia grande semana que vem, pois isso o motivo, mas estamos bem bjs e obrigada pelo carinho…
    Fique na paz
    bjs
    Sheila e Laurinha

  • Jussara querida!
    Como as coisas mudam …como nossos valores se alteram…e como complicamos as coisas…
    Essas imagens serviram para muitas reflexões hoje.
    A arte está em todos os cantos, basta a gente conseguir enxergar com outros olhos o que nos cerca.
    Na minha calçada nascem graminhas no meio do concreto, e eu doida para arrancá-las…se eu enxergasse as possibilidades…há muita coisa seria tão diferente!
    Parabéns pelo texto. Como sempre perfeito!
    Um beijo e um ótimo final de semana.
    Ah, tem mural novo sendo lançado hoje e não quero desculpas para não participar. O tema é Cama arrumada, a sua cama. Te espero por lá.

  • BEATRIZ – Obrigada, querida, por se encantar com meus escritos. Isso me faz um bemmmm!

    CÍCERA E DANIELA – Que bom que gostaram do post! A criatividade sempre me encanta!

    CIMARA – Que coisa boa é suscitar –apenas com palavras – lembranças queridas!

    MARLY – Obrigada, querida, por esse comentário tão carinhoso. Fico muito feliz de que tenha gostado do post… especialmente do meu texto… rs. Pode me chamar de Ju, sem problema. A maioria dos meus amigos me acha assim =)

    LIZ – É… hoje em dia também extermino os ditos cujos que me perturbam a limpeza… mas é bom lembrar que eles podem gerar poesia. Gostei muito da sua observação “É o urbano se unindo ao natural… lindo!”. Concordo!

    ILAINE – Que bom que gostou do meu texto! Fico envaidecida, principalmente porque você também faz poesia!

    BETTY E CLAUDIANA – Não se sinta culpada, Betty… também coloco mata-matos porque nenhuma limpeza fica perfeita com elas… mas é bom lembrar que elas podem gerar poesia! Que bom que gostaram do blog e vão segui-lo. Claro que vou visitar os espaços de vocês! Só me deem um tempinho porque ando meio atrapalhada por estes dias, mas breve chego lá, tá bem?

    VI – Que coisa mais poética esta sua frase: “gosto de ver plantinhas no telhado, elas sobrevivem do pó acumulado e da nevoa da manhã, parecem pequenos milagres”. Coisa mais linda! Amei!

    LORENA – Sua descrição do jardim foi tão perfeita que quase o enxerguei, acredita? Obrigada, querida, pelo carinho!

    SHEILA – Sucesso na cirurgia da Laurinha. Que o Médico dos médicos esteja no controle de tudo!

    PEQUI – Obrigada! Volte sempre, é um prazer tê-la aqui!

    FABIANA – Obrigada pelo elogio ao meu texto… amei! Que bom que o post suscitou reflexões… fico tão feliz!

    MENINAS NÓ NA LINHA – Obrigada! Que seu desejo seja atendido! A vida às vezes nos mostra seu lado mais triste e fica difícil ver beleza. Mas eu insisto… rs

    LILIAN – Obrigada pela visita e por ter se tornado seguidora! Espero que possamos trocar muitas ideias! Vou, sim, me inscrever no seu sorteio… amo participar… só que nunca ganho! E olha que nem é sorte no amor, viu? rs

    Abraços!

  • Ju, que emoção ouvir seu poema declamado no programa.
    Como disse a apresentadora, nota mil pra vc, minha querida amiga.
    Saudades. E não me esqueço de nossos raros momentos de amizade, onde sempre há muita ternura e por isso não são perdidos. Pelo contrário, são momentos que valem ouro ficam guardados para sempre.
    bj

  • Ai, Ju.
    Esqueci de me identificar no comentário. Que idiotice a minha. Cm que vc vai adivinhar se está como anônimo, né? É a Claudia,viu? bj

  • Querida Jussara!
    Que linda e emocionante esta tua estória, que resgata a "menina de escola" que vive em cada uma de nós… Tudo tão terno e precioso! E eu, daqui de longe, fiquei sorrindo de encantamento,enquanto lia e via imagens do passado brotando dentro de mim… Também me lembro ainda do caminho para o colégio onde eu estudava, e das "novidades" que via pelo trajeto. E o mais interessante é que, de certo modo, continuo vendo até hoje, durante o caminho que faço para levar à pé todos os dias, o meu filho pequeno à escola dele! (Rs…) E hoje, vamos os dois, descendo a longa rua aqui de casa, reparando nos pequenos detalhes da paisagem ao longo deste caminho, como as pequeninas flores, cachorros, nuvens, passarinhos e uma antiga colméia de abelhas nativas no muro vizinho… Com certeza,belas lembranças, que ficarão sempre conosco.
    Também adorei ver estas imagens incríveis, frutos da alma sensível de um artista que vê além do senso comum… Simplesmente maravilhosas!
    E muito obrigada à você,querida Jussara,por compartilhar as tuas preciosas memórias conosco… Certamente uma viagem de delicadeza dentro da nossa própria alma…

    Beijo grande e uma semana iluminada pra ti!
    Teresa

  • Bom dia Jussara.

    Primeiro quero agradecer pelos votos de boas férias. Não tenho muito apenas curtindo a família e descansando. Mas é muito bom sentir o ar mineiro novamente.

    Gostei muito desse seu texto, me fez lembrar meu de tempo de escola. Como você eu também caminhava para a escola e também gostava muito de observar as pequenas coisas que normalmente poucas pessoas observam.
    As imagens que usou para representar seu texto são criativas e poéticas. Gostei muito.

  • Oi Jussara, tudo bem? Que delicia de post… texto e imagens. Como perdemos as delícias que só os olhinhos de criança encontram? Lembrei-me do meu trajeto, que também era longo… saudades! Beijos e linda semana para você!

  • Jussara, que prazer enorme deparar com essas imagens que são uma verdadeira poesia e inspiração para todos nós.
    Deu uma saudades danada de voltar a ser criança, nem que seja por um dia apenas, pra viver tudo com gosto e enxergar essas pequena delicias… brincar de pega, pular corda, amarelinha, e de tudo o mais que a imaginação mandar…
    Amei, imagens inesquecíveis.
    bj
    yvone

  • SILMARA – Não é mesmo fantástico que a menina que fomos continue a viver em nós?

    CLÁUDIA – Que bom que gostou do poema declamado, amiga! A Irene Coimbra colocou a alma na voz, não é mesmo?
    Quem não ouviu, corra lá: ttp://www.youtube.com/watch?v=Qly_iWRltAs&list=UUXPJPLf0UJc2ac-cYifulBw&index=1&feature=plcp

    LIA, CARMEN e VANESSA – Fico feliz que tenham gostado do post =) Sim, Carmen, preciso achar os cortadores no tamanho ideal, mas assim que fizer te mostro.

    TERESA, REGINA, PRISCILA E YVONE – Adorei saber que meu texto fez com que se lembrassem dos próprios trajetos escolares… pelo jeito não fui só eu a caminhar bastante… rs. O ideal seria que nunca perdêssemos o primeiro olhar sobre as coisas, mas depois de tê-lo perdido é essencial reaprender a olhar. Bom que nesse processo a Teresa tem a ajuda do filho, não é mesmo?

    Abraços a todas! Bom demais tê-las aqui! =D

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