MONTANHAS NOTURNAS

MONTANHAS NOTURNAS
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Concluí assim meu post anterior:
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Caminhar em direção às montanhas quando a solidão é imensa e o próprio peito, “puro deserto”, é de certa forma buscar a proteção que elas representam em razão de sua aparente fortaleza e imutabilidade. Caminhar em direção a elas quando cai a noite é procurar refúgio em meio ao indeterminado, ao vazio.
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Referia-me ao eu-lírico (a pessoa que fala nos versos) do poema “Canção da tarde no campo”, de Cecília Meireles, que caminha “ao longo da noite” numa região montanhosa: “subo morro, desço morro”.
Mais que indeterminação e vazio, entretanto, constituem o duplo simbolismo da noite: ao mesmo tempo em que se refere às trevas (e em certo sentido à morte), a noite vincula-se à preparação do dia e à luz da vida que com ele há de vir.  Assim, quando o eu-lírico de Cecília afirma andar “ao longo da noite” parece ter consciência dessa travessia no espaço-tempo, desse caminhar em direção à manhã. A afirmação “a estrela é minha” parece, nesse sentido, uma garantia permanente de luz. 
Retomei essas considerações para lhes apresentar um belo quadro de montanhas em que a artista parece querer justamente enfatizar  as trevas e a luz:
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Guilherme Lentz, doutorando em Letras pela UFMG e filho da pintora, Nilza Lentz, conta que além do visual deslumbrante, ao qual a fotografia não faz justiça, o quadro tem “uma textura única” que lembra uma “camada de gesso fraturada”. As “centenas” de pontinhos de luz espalhados ao longo da tela, alguns deles, segundo Guilherme, “quase microscópicos”, conferem nuances diferentes às montanhas retratadas, dependendo do ângulo em que se observa ou da hora do dia. “Uma coisa magnífica”, diz ele; uma coisa mágica, digo eu, capaz de sugerir a vida espalhada pelas montanhas: ou pirilampos ou o lume de uma casinha escondida na mata, ou até de um aglomerado de casinhas (no centro inferior da tela, um pouquinho à esquerda), o que me lembra minha cidade vista de longe, entre as montanhas, por quem a ela retorna à noite pela rodovia Paraguaçu-Machado.
No lado direito da tela essa luminosidade se faz mais forte, por detrás da montanha em primeiro plano. Ao espectador da arte resta conjecturar a respeito daquilo que a provoca: uma cidade? Das montanhas mais distantes evola-se uma espécie de neblina luminosa, ou luminosidade nebulosa, que insinua, talvez, o aproximar da manhã, ou pelo menos a existência de uma lua cheia (que não aparece) a iluminar o alto da tela, bem ao centro.
Lindo trabalho, deslumbrante mesmo, mágico, que como bem percebe Guilherme Lentz, capta “a alma da nossa terra e do nosso jeito de ser” – ou não me teria remetido à visão noturna de Machado, entre montanhas, pequenas luzinhas ao longe a prometerem minha gente, minha casa, meus livros, meu jardim…
Gostaria muito de conhecer de perto esse quadro de montanhas,  me deter nos pontinhos de luz, descobrir o que a fotografia não revela e ampliar a leitura breve que fiz dele aqui. Feliz do Guilherme Lentz que o tem em casa e pode a qualquer momento desfrutar de sua beleza.
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Beijo&Carinho,
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Para ir além, acesse o blog do Guilherme, aqui.
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Crédito da imagem em destaque, aqui.
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