UMA EDIÇÃO DE AUTOR

UMA EDIÇÃO DE AUTOR
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Edição de autor, para quem não sabe, é aquela edição meio caseira, feita em gráficas interioranas que, depois do trabalho impresso, não o divulgam, nem o distribuem pelas livrarias do país. Pois é. Em 2001 publiquei dessa forma o Minas de mim, livro que reúne 50 poemas escritos ao longo de mais de 20 anos, mas selecionados e reunidos por manterem uns com os outros uma espécie de contato, por conservarem um mesmo ar, um mesmo élan.

Não datados, deixam de revelar alguma possível evolução no processo de criação da autora, garantindo, entretanto, que se apresentem sempre novos aos olhos que os percorrem. Por outro lado, é possível perceber alguma variação de estilo de um para o outro, dado o espaço de tempo de criação entre eles e as fatias de vida e experiência de sua autora.

Não só a ausência de datas garante o permanente frescor desses versos: as reflexões que os permeiam giram em torno de temas inesgotáveis – o amor, o desejo, a saudade, a dor, os sonhos, o sentido do tempo e a transitoriedade do ser – servindo-se, ao mesmo tempo, de uma certa paisagem mineira, pincelada de ladeiras e casarões.

O título da obra – Minas de mim – remete, portanto, a Minas Gerais, estado em que nasci e que amo, mas está também relacionado aos campos minados e às minas de pedras preciosas, indicando, ao mesmo tempo, os “explosivos segredos” que os poemas (re)velam e o valor do que é (re)velado.

Ecos de alguma poesia portuguesa se fazem ouvir nesses poemas, sugerindo uma poetisa que é também leitora e que em alguns momentos chega a dialogar com poemas de Camões, Antero de Quental, Fernando Pessoa – além dos brasileiros – e mineiro – Cecília Meireles e Carlos Drummond de Andrade.

Talvez tenham sido a “dicção e a mundividência profundamente feminina” desses versos, notadas por Marcelo Franz (PUC-PR), que me garantiram um espaço no valioso Dicionário crítico de escritoras brasileiras, da estudiosa Nelly Novaes Coelho (São Paulo: Escrituras, 2002). Talvez tenha sido um outro dos já citados valores acima. Seja como for, meu nome aparece também no livro Todos os nomes do mundo, de Nelson Oliver (Rio de Janeiro: Ediouro, 2005), no verbete “Jussara”, como exemplo de “personalidade” (ligada à poesia) que tem esse nome.

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A propósito do título do livro escreveu a Profa. Dra. Benilde Caniato, da USP, ao prefaciá-lo:

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O título, homônimo de um dos poemas, sugere um certo grau intensivo, como se fosse “Minas plenas de mim”, “Minas plenas de minha poesia”, valor afetivo que se encontra também em outros poemas. Em “Minas” está contido o “mim” como parte dual que se divide para conter especularmente o esforço das descidas e subidas de ladeiras em que a poeta, mineiramente barroca, procura descobrir histórias. Histórias de “minas”? Histórias de “mim”?

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O poema, com o mesmo título do livro, é o seguinte:

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“Minas de mim”

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Me desço e me subo

ladeira que eu sou,

me dispo, me busco,

mineira – eu vou.

Descubro histórias

de minas de mim.

Minérios, explosivos

segredos me fazem assim.

De altos e baixos,

de sim e de não,

sou toda relevos

e casarões.

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Ao comentar um outro poema, “Malabar”, em que o eu-lírico confessa sonhar com “trapézios e aplausos”, Profa. Dra. Benilde Caniato  prevê para a autora que “o sonho não lhe será proibido, com certeza”. Que os leitores de Minas de mim concordem sempre com ela. 
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O nome do blog fica aqui explicado*. Num futuro post prometo colocar um outro poema do Minas de mim.
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*Atualização: em algum momento de sua trajetória, o blog passou a ter o nome de sua autora, Jussara Neves Rezende.

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Caso você se interesse por possuir um Minas, ele está à venda aqui. 

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Beijo&Carinho,

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