COPOS-DE-LEITE EM DIFERENTES VERSÕES

COPOS-DE-LEITE EM DIFERENTES VERSÕES

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Até os 10 anos de idade morei ao lado da casa de meus avós maternos e seu porão cheio de labirintos misteriosos que, junto de meu irmão e uma prima, costumava explorar. Sobre essa casa mater falarei um outro dia. Mencionei a presença da casa do Vovô Dito e da Vovó Ninha apenas para justificar que já que nos víamos a semana toda, era mais que justo que aos domingos fôssemos visitar os avós paternos, Edson (que meu irmão e eu chamávamos “Édio”) e Ayde. Enquanto os adultos conversavam à volta da mesa, eu explorava o quintal. Atrás do tanque, uma rampa de terra batida levava a um pequeno terreno desocupado onde flores, cheiro-verde e mato cresciam numa luxuriante mistura. Lembro-me de que lá havia um pé de “capim-de-contas”, chamado por outra infinidade de nomes, como “capim-de-nossa-senhora” ou “conta-de-lágrimas”. Devo ter ouvido de meu pai que eram contas-de-lágrimas, pois assim chamei à vida toda a essas miçangas naturais que – me encantava saber – nasciam do capim! Minha bisavó materna (a única que cheguei a conhecer) tinha um terço feito com essas contas e eu amava recolhe-las para fazer pulseiras.

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Num domingo em que me aventurava pela rampa de terra batida, encontrei em plena floração uma moita de copos-de-leite. Eu já sabia que tinham esse nome, pois voltei correndo e fui pedir à Vovó Ayde que me desse uma das flores. Ela se confundiu achando que eu queria um chocolate quente, pois quando criança eu dispensava o cafezinho, mas expliquei que era a flor que eu queria e ganhei uma. Voltei para casa encantada com sua textura, com o contraste do branco com o amarelo do pistilo, com a facilidade com que a faca cortara seu caule suculento.
O encantamento por essas flores, experimentado naquele domingo, jamais passou. Acho chiquérrimo ter copos-de-leite naturais num belo vaso! Considero feliz quem os têm. Acho LINDA a tela pintada pela minha mãe (que tem mãos de fada) e que fica sobre a cabeceira da minha cama: mistura de copos-de-leite e antúrios, o quadro tem cores lindas e combinam à perfeição com o tom de azul dessa parede do meu quarto. Minha mãe presenteou-me também com outro quadro, menor, de copos-de-leite apenas. Esse fica na parede da esquerda de quem entra no quarto, entre a parede azul e a janela. As outras paredes têm cor palha.
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Tela de Nara Neves
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Talvez tenha razão minha amiga Olga ao dizer que sou “apenas a continuação artística de uma família de artistas”, pois as “hábeis vozes, mãos, corpos” que compuseram a minha árvore desde o tronco são muito bem conhecidos de todos que nos conhecem bem. Olga se refere à minha poesia e seu comentário é, naturalmente, elogioso, mas não tenho hoje um poema sobre copos-de-leite para mostrar. Na falta dele, mostro estas toalhas que bordei em ponto-cruz para o meu banheiro: ecos – ainda hoje – das minhas experiências na meninice.
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Beijo&Carinho,
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Crédito da imagem em destaque, aqui.
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14 thoughts on “COPOS-DE-LEITE EM DIFERENTES VERSÕES”

  • Olá, tudo bem? Acabei de ver o blog, está lindo, perdão, muito lindo! Adorei o texto sobre os copos-de-leite, muito bonito , parece estar escrito no algodão doce. Parabéns!!

    Um abraço,
    Lilian

  • Olá Jussara, tudo bem?
    Seja bem-vinda à Casa de Retalhos.
    Você é mineira de onde?

    Que belas memórias essas suas, e tão bem relatadas. Acho que sua amiga Olga tem razão 🙂

    Abraços

  • Ju,
    agora li as memórias em que vc cita nossos avós Edison e Ayde. É incrível perceber como esses "Nogueira Rezende" possuem as emoções a flor da pele…somos sanguíneos mesmo"!…rs

    Apenas por ler seus nomes e imaginar a tarde de domingo na presença dos mesmos fui tomada por imensa emoção e saudade.

    Se ha algo que verdadeiramente me deixa feliz é saber que, haja o que houver e estejamos nós onde for, haverá um dia em que toda lágrima secará de nossos olhos e então desfrutaremos juntos, TODOS JUNTOS, uns dos outros eternamente!

    Bjos da prima
    Dri
    *-*

  • Oi, Jussa! També acho os copos de leite flores lindas demais da conta! Porém, vc fez com que eu também visitasse meu passado com as tais contas de lágrimas. Lembro muito bem da planta e de seu cheiro forte de capim. Nós colhíamos as contas verdes e a deixávamos secar até ficar quase branca ou, como diria o Cleuton, "caa". Lemrbo muito bem que a maioria dos terços eram feitos desta planta.

  • Oi, Sidnei, que bom tê-lo aqui! E que bom que minhas memórias despertam outras… acho que uma das razões para escrevermos e lermos é esta: "descobrir", como diria o Rubem Alves, "conspiradores", "gente que respire o mesmo ar". Abraço! Venha sempre…

  • Oi Duda, como a prima de cá também me lembro da casa da D. Ayde, dos porões da casa da Vó Ninha (um pouco tenebrosos) até do terço da Vó Bisa, Josefina. "conta de lágrimas" é um lindo nome!Terços, pulseiras, cortinas… Passeamos juntas por quintais, porões. Bacana! Beijo
    Zuleica (Teti)

  • Teti, uma das melhores coisas da vida – daquelas que nos fazem sentir que estamos vivos de verdade – é ter gente que se recorda daquilo que recordamos. Delícia seu comentário que legitima meu texto até para mim mesma, que confirma que vivi o que às vezes até parece sonho.
    Beijo!

  • Jussara que memórias lindas de tua infância…"mistério" me fascina…
    Amo as mesmas flores… Quadro pintado por tua mãe. Fantástico!!!
    As toalhas…
    Até aqui estou me sentindo um ET…
    Parabéns!!!
    Abraço!
    Mara Nobre – São Paulo

  • Sabe, Mara, que uma das coisas boas que o blog tem feito por mim é me por em contato comigo mesma, com minhas memórias, com aquilo em que acredito?
    Não se sinta um ET, criatura. Eu sou uma pessoa tímida, toda introvertida… por isso cultivei esses dons. Os seus são apenas diferentes!
    Abraço!

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